Rio -  O Brasil tem sofrido muito pela falta de bons quadros gerados pelos governantes. Reside aí, no meu entender, o grande erro dos militares, que deixaram grandes obras, grandes exemplos de competência e honestidade, mas sem criar lideranças nas novas gerações. Os jovens foram ignorados, salvo exceções de praxe.
No caso do Rio, dois políticos de posições opostas, adversários, tiveram em comum formar nova geração de homens públicos de qualidade, acima da média nacional. Carlos Lacerda, além de ter se revelado tão bom gestor quanto orador, intelectual completo, formou equipe de jovens que permaneceu por décadas na vida pública com dignidade e honestidade. São nomes como Célio Borja, Veiga Brito, Nina Ribeiro, Sandra Cavalcanti, Hélio Beltrão e Mauro Magalhães.
Brizola, negligente como administrador, mas com o sentido da grandeza de obras como o Sambódromo, Cieps e a Linha Vermelha (projetada por Lacerda), soube aproveitar uma mocidade cheia de ideais e com embasamento cultural para fugir ao populismo barato. Aí estão Otávio Leite, Daniel Homem de Carvalho, Hugo Leal, Bayard Boiteux, Tito Riff, Técio Lins e Silva.
No antigo Estado do Rio, foi líder inconteste, e por gerações, o exemplar interventor, governador e senador Amaral Peixoto , lembrado e representado até hoje em todo o estado. No mais, poucos deixaram valores nas gerações abaixo — nem mesmo Negrão de Lima, o mais completo administrador da então cidade-estado. Além de sair desprestigiado, não deixou nem um de seus secretários com mandato parlamentar, se autoexilou e depois teve discreta passagem pelo Congresso.
Foi Cesar Maia, da safra brizolista, quem retomou a busca de talentos. Na lista, seu filho Rodrigo, Indio da Costa, Eduardo Paes e parte da equipe que seguiu o atual prefeito do Rio em seu vitorioso voo solo. Este tem, por sua vez, atraído novos valores para a vida pública.
É neste momento de tanto desgaste da classe política que ganha valor a construção de nova geração de vocacionados para a política, com padrões enquadrados no que a sociedade aspira como legítimo recurso para salvar o conceito de democracia entre nós. Novas ideias, novas posturas, novos personagens. Mas sem os velhos vícios.
Aristóteles Drummond é jornalista