Rio -  O prefeito Eduardo Paes disse, nesta quinta-feira, que a versão Cidade Olímpica do jogo Banco Imobiliário não é uma propaganda do seu governo. A declaração foi feita durante o lançamento de um empreendimento imobiliário para abrigar moradores da comunidade Vila Autódromo, na Zona Oeste do Rio.
"O projeto do jogo passou por avaliação na Prefeitura e está sendo colocado em prática depois das eleições. Não é propaganda. Não fui eu que fiz o Maracanã ou o Cristo Redentor. O que há no jogo é o que acontece na cidade", afirmou Paes.
MP abriu inquérito para apurar origem de dinheiro
O Ministério Público instaurou um inquérito para investigar a origem do dinheiro investido na compra de 20 mil unidades da versão do Banco Imobiliário Cidade Olímpica e o contrato da prefeitura com a empresa Estrela. O brinquedo faz alusão às obras feitas pela atual gestão e foi adquirido para ser distribuído nas escolas públicas municipais.

De acordo com o promotor Eduardo Santos Carvalho, da 8ª Promotoria de cidadania, a prefeitura e a empresa, assim que oficiadas, terão 10 dias para se pronunciar sobre o caso. "Eu quero saber qual é o acordo que foi feito e de onde vem a verba que foi usada para a compra do jogo", afirma Carvalho. Ainda segundo o promotor, o inquérito foi instaurado após a denúncia feita por O DIA.
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MP investiga origem do dinheiro usado em Banco Imobiliário | Foto: Reprodução
O município deverá informar a natureza do acordo feito com a Estrela, de enviar ao MP cópia do processo administrativo em que contrata a aquisição dos jogos, e informar se as despesas foram custeadas com verbas da Educação. Já a empresa deve prestar esclarecimentos sobre como a prefeitura participou na definição do conteúdo do brinquedo.

Polêmica à vista

As obras do prefeito Eduardo Paes — como Clínica da Família, Transcarioca, Transoeste e Museu do Amanhã — viraram cenário da mais nova versão do Banco Imobiliário, da Brinquedos Estrela.

A edição especial "Cidade Olímpica", que chegará às lojas em maio — a preço sugerido de R$ 99,90 — já está sendo usada em escolas municipais. Um dos argumentos é levar os alunos a conhecer melhor a cidade do Rio.

A prefeitura diz que liberou o uso da marca Cidade Olímpica para a Estrela e, como achou o produto interessante, encomendou 20 mil Bancos Imobiliários para os estudantes da rede.
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Tabuleiro do Banco Imobiliário na versão da prefeitura carioca, que tem despertado críticas de especialistas a respeito de suposto uso político do jogo entre os estudantes da rede municipal de ensino | Foto: Reprodução
Além da cessão do uso da imagem, o município deu também para a empresa de brinquedos R$ 1.050.748, referentes à compra dos jogos.

Fato é que quem lança os dados no tabuleiro do banco olímpico, em busca de fazer fortuna, tem um bom incentivo para investir na Comlurb, na Clínica da Família, no Centro de Operações, nos BRTs (corredores de ônibus ) e até na Rio Filme, que são citadas como “empresas que podem proporcionar muitos lucros a seu proprietário”.

Os investimentos feitos por Paes são detalhados em cartas, numa verdadeira aula sobre as obras que ele tem feito. O Bairro Carioca, em Triagem, por exemplo, é apresentado como uma criação para receber famílias de áreas de risco.

Reprovação geral

A enxurrada de críticas que vem sendo feita na internet levanta a questão para o fato de que a brincadeiracom crianças pode trazer visões equivocadas sobre a realidade.

Uma delas é a punição para o jogador que cair com o peão na casa “doação para projeto social”. Neste caso, $ 200.000 são descontados do participante na rodada.

“Isso produz um ser humano que vê políticas compensatórias, de apoio à pobreza, como esmola. E o governo erra ao fazer isso. Ele está treinando crianças e adolescentes para enxergarem iniciativas em favor de minorias como algo desnecessário, que, por isso, merece punição. A visão pedagógica é equivocada”, afirmou o sociólogo e professor da UFRJ Paulo Baía.
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Jogo foi desaprovado por entidades, professores e especialistas | Foto: Reprodução
A repercussão do jogo chegou às salas de aulas, mas agora de outra maneira. Vai virar tema de discussão. É o que vai fazer, por exemplo, o professor José Teixeira, que pretende levar aos seus alunos, do 6º anos do Ensino Fundamental até o Ensino Médio, a questão, que resiste no país e no mundo, de políticos misturarem o público com o privado.

“Estou trabalhando como isso acontece e cria, em algumas situações, radicalismo no poder. É importante que os estudantes tenham consciência de que a máquina pública não deve servir à iniciativa privada”.

Bate-boca no Twitter

O secretário municipal de Cultura, Sérgio Sá Leitão, bateu boca com seguidores ao tentar defender o uso do jogo nas escolas. “É uma iniciativa fantástica de promoção da cidade. Inovadora e com amplo alcance. Chega de patrulha e caretice!”, escreveu ele, que foi provocado com a frase: “banco imobiliário que apresenta aparelhos e serviços públicos como empresas lucrativas é um absurdo”.

Rapidamente, um outro internauta entrou na discussão e respondeu ao secretário: “Faça inovação com seu dinheiro”. Sérgio, então, postou: “Você tem uma visão estreita e arcaica do papel do poder público”.
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Secretário defendeu o jogo no Twitter | Foto: Reprodução Internet