Rio -  Era um fim de tarde de domingo. Entre reclamações sobre os preços nos supermercados, críticas à incompetência dos governos de todas as esferas e a apatia da população brasileira, que lota as ruas no Carnaval, mas não tem a mesma disposição para protestar por temas mais relevantes, eis que surge na conversa tema recorrente para o carioca: motoristas de ônibus.
A questão, porém, não era a alta velocidade, os solavancos ou a insistente parada longe das calçadas. O que incomodava ali era o fato de alguns motoristas se recusarem a parar no local solicitado, diga-se, fora do ponto.
Razões não faltaram para justificar o pedido: estar com bolsas de compras, já era noite, estava próximo ao ponto final e o coletivo estava vazio, o local de descida é longe de casa... Todos costumam parar ali naquela esquina. A pessoa pediu com educação e, ainda assim, o motorista insistiu em parar no ponto. Muita má-vontade.
Partindo desse tipo de argumentação, muitas atitudes poderiam ser apresentadas como justificáveis. A alta velocidade, o avançar o sinal ou o costume de parar longe da calçada não seriam fruto do trânsito caótico? Engarrafamentos geram atrasos e é preciso chegar ao ponto final mais rápido. O problema é que também geram caos.
Cada um dos pedidos é particular, está no campo do privado, mas as regras são de interesse público, ou deveriam ser. E se não forem não devem ser burladas, e, sim, transformadas, sob o risco de continuar tortas para sempre. Imagine se os motoristas pararem para atender à necessidade de cada passageiro ao longo do dia? Não saem nem do ponto final. Estamos sempre apontando isso e aquilo, mas nem sempre refletimos sobre as pequenas atitudes, por meio das quais colocamos, também, o nosso interesse privado acima do público.
Ana Paula Conde é jornalista e professora