Artigo: A influência de Paulo Barros
Colunista Bruno Filippo se antecipa ao aniversário de uma década do carnavalesco no Grupo Especial e analisa a importância de suas inovações
POR BRUNO FILIPPO
Escola de mestres
Ponto fora da curva
Todos os carnavalescos trilharam este caminho, sem deixar de firmar estilo próprio. Paulo Barros, no entanto, é o ponto fora dessa curva. Podem-se listar três aspectos básicos de seu estilo:
Alegorias humanas – Nelas, os componentes não são destaques que complementam o visual e a mensagem alegórica, como nos carros tradicionais. Os componentes são o próprio carro, em constantes movimentos que, alternando construções imagéticas, encerram significados do enredo;
Todos os carnavalescos trilharam este caminho, sem deixar de firmar estilo próprio. Paulo Barros, no entanto, é o ponto fora dessa curva. Podem-se listar três aspectos básicos de seu estilo:
Alegorias humanas – Nelas, os componentes não são destaques que complementam o visual e a mensagem alegórica, como nos carros tradicionais. Os componentes são o próprio carro, em constantes movimentos que, alternando construções imagéticas, encerram significados do enredo;
Elementos não carnavalizados – Carros que, sem a estilização carnavalesca, ou podem ser levados para a avenida em sua concretude, como se estivessem fora do desfile (a pista de gelo da Viradouro, em 2008, por exemplo); ou, aos olhos mais tradicionais, parecem carentes de acabamento (a rampa de descida dos super-heróis, em 2010); ou se assemelham a criações de arte contemporânea (o fusca preto de 2005).
Ícones da cultura de massa – Referência a elementos da indústria cultural: Michael Jackson, Priscila, a Rainha do Deserto, Playmobil - o que permite a fácil identificação do público.
Paulo Barros já ganhou dois títulos com a Tijuca | Foto: André Mourão / Agência O Dia
Ele não foi o primeiro a usar um desses três itens em desfile: só para citar dois grandes carnavalescos, Renato Lage, com estética high tech (embora ele também saiba fazer, e muito bem, outros estilos, haja vista o deslumbrante “Candaces”, de 2007), e Fernando Pinto, tropicalista, utilizaram-se de ícones da cultura de massas e alegorias não carnavalizadas. Mas de maneira pontual, dentro do estilo de cada um, numa interseção com a linguagem barroca.
Já em Paulo Barros se tem, no lugar da interseção, uma antítese – convivência de opostos, porque ele não abandona por completo o referencial barroco, e isso causa a impressão de estancamento entre os setores do desfile. Daí que o estilo “paulobarreano”, de início, tenha sido visto como algo personalista, pela associação imediata com ele – mas isso não impediu que passasse a ser copiado, sutil ou escancaradamente, por outras escolas, do Rio e do Brasil, sobretudo as alegorias humanas, incluindo a própria Unidos da Tijuca, quando esta o deixou sair para a Viradouro.
O sucesso de público e de crítica de seus carnavais, premiados com dois campeonatos, transformou-o num pop star que ultrapassou os limites da Marquês de Sapucaí. É normal que, num evento tão apropriado pelo show business, ele passe a se tornar uma referência.
Cabe a discussão sobre a largura da estrada que ele abriu para as escolas trilhar: se estreita, como mera cópia maneirista, bem mais perceptível até agora; ou mais aberta, o que permitiria a incorporação de novos elementos que levem à inovação e à transformação da estética das escolas de samba. E, neste caso, como seria a relação com o referencial barroco – antítese ou interseção.
* Bruno Filippo é jornalista e sociólogo
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