Asfalto e morro criticam remoção de comunidades
Moradores ficam isolados em áreas distantes do trabalho e do seu convívio social
POR CAIO BARBOSA
Morro do Borel, na Tijuca, foi o cenário escolhido para o terceiro seminário “Rio — Cidade sem Fronteiras”, promovido pelo Grupo Ejesa na terça-feira | Foto: Severino Silva / Agência O Dia
O arquiteto Pedro da Luz Moreira está em pleno acordo com Jovino e defende que a grande saída seria unificar o projeto Minha Casa, Minha Vida, do governo federal, com a urbanização de favelas, e não apenas remover e reassentar moradores em áreas distantes de seus centros de convivência.
“Este seria um grande gol que faríamos na questão habitacional. Todos sabemos a que preço chegou a terra na nossa cidade. E remover toda uma comunidade para uma área distante significa, também, levar todos os serviços básicos a estes locais. Seriam quilômetros e quilômetros só para as redes de água e esgoto, por exemplo. E isso teria um custo altíssimo”, alega.
Moradora da Indiana, comunidade que fica no acesso ao Morro do Borel, Maria do Socorro alerta a sociedade para um problema que muitas vezes tem passado despercebido: a especulação imobiliária disfarçada de projeto habitacional e social.
“Há poucos anos removeram a comunidade chamada Lapidário, aqui ao lado do Borel, com o argumento de que era uma área de risco. Só que em seguida ergueu-se um empreendimento imobiliário com apartamentos vendidos por R$ 600 mil. É fazer a gente de bobo”, critica.
Vizinho de Maria do Socorro na comunidade Indiana, Antônio Carlos complementa: “Se poderia construir um edifício, por que não foi feito um destinado aos moradores que lá estavam? Este jogo sujo é que precisa acabar”, reclamou Antônio.
Mais diálogo é a solução
Baiano de Jequié, Jovino Neto chegou ao Borel em 1994, onde trabalha desde então na Jocum, com dependentes químicos e escola de música.
“É preciso haver diálogo e criar condições para os moradores continuarem próximos aos locais onde moram. A regularização fundiária tem que caminhar sempre junto com o respeito ao cidadão.Remoção pura e simples não é a melhor solução. Muito morador não consegue se manter em outro lugar”, argumenta Jovino.
Obras sem discussão
Representante do Instituto dos Arquitetos do Brasil junto ao programa Morar Carioca, da Prefeitura do Rio, Pedro da Luz Moreira diz que falta discussão em relação às obras e que isso é importantíssimo para baratear custos também na questão do déficit habitacional.
“No Rio, não se tem o hábito de discutir projetos. E isso representa muito pouco no custo total da obra. É preciso planejar com os moradores, com arquitetos, com todos os setores”.
Urbanizar não é asfaltar
Geógrafo e coordenador do Censo de Ruas da Maré, Dálcio Marinho faz um alerta: urbanizar favelas não significa colocar asfalto, luz e esgoto no morro.
“Se o governo quer regular, é preciso ouvir. A favela tem suas características culturais, geográficas, sociais. A favela tem uma história e não é possível que a regulação seja uma cópia fiel do que é feito no asfalto. É preciso entender as normas de convivência que existem numa comunidade”, explica.
Nenhum comentário:
Postar um comentário