Contagem (Minas Gerais) -  Enquanto o advogado Tiago Lenoir, defensor de Dayanne Rodrigues fazia elogios à juíza Marixa Rodrigues, ao promotor Henry Vasconcelos e aos advogados da mãe de Eliza Samudio, o assistente de acusação, provocou, em voz baixa: "Obrigado, empresto dinheiro a juros".
Tiago Lenoir falava na tarde desta quinta-feira para o Júri responsável por julgar o goleiro Bruno e sua ex-mulher Dayanne Rodrigues, no Fórum de Contagem, em Minas Gerais. Bruno é acusado de ser o mandante da morte de Eliza. Já Dayanne responde pelo sequestro e cárcere privado de Bruninho.
Depois da defesa de Dayanne, o advogado Lúcio Adolfo, defensor de Bruno falou para o júri. Ele aproveitou para alfinetar o promotor Henry Vasconcelos.
"Queria deixar claro, excelência, que descobri hoje que a minha admiração pelo Ministério Público de Minas Gerais não se estende a todos. Fica aqui meu protesto, doutores advogados. A advocacia não é uma prostituta escarlate", atacou Lúcio Adolfo. O promotor não olhou para o advogado.
Lúcio também rasgou elogios para a juíza Marixa Rodrigues. "Me apresento aqui admirado, não surpreendido, mas admirado, por trabalhar sob a presidência de vossa excelência".
O advogado ainda acusou o Ministério Público de ter feito um acordo com Luiz HenriqueFerreira Romão, o Macarrão, quando ele confessou ter participado do crime de Eliza Samudio. "Uma negociação atrás das câmeras", debochou. 
Promotor pede aos jurados a absolvição de Dayanne
 Após cerca de duas horas de pronunciamento no Tribunal do Júri de Contagem, em Minas Gerais, nesta quinta-feira, o promotor Henry Vasconcelos pediu aos jurados a absolvição de Dayanne Rodrigues, ex-mulher do goleiro Bruno, que responde pelo sequestro e cárcere privado de Bruninho.
"Para finalizar, peço a vossas excelências que absolvam Dayanne, pois ela estava sob constrangimento causado por Zezé (ex-policial acusado de participaçao na morte de Eliza Samudio), o que não a permitia agir dentro da lei", disse o promotor. 
 Ao ouvir Henry Vasconcelos, a ex do goleiro chorou muito, enquanto os advogados de defesa da ex-mulher do goleiro comemoravam. "Dayanne foi manobrada por aqueles marmanjos. Bruno deixou a mãe de suas filhas à mercê de Zezé. E também não atendeu suas ligações quando ela estava na delegacia. Ora, é um homem ocupado, que não pode fazer exame de DNA, que não poderia atender Dayanne", encerrou a promotoria.
Dayanne, ex de Bruno, é vigiada por policial no quarto dia de julgamento | Foto: Alexandre Brum / Agência O Dia
Dayanne, ex de Bruno, é vigiada por policial no quarto dia de julgamento | Foto: Alexandre Brum /Agência O Dia
Em seguida, José Arteiro, assistente de acusação e advogado da família de Eliza Samudio, pediu a palavra e afirmou aos gritos: "Bruno é o mentor da morte de Eliza".
Arteiro pediu para os jurados pensarem em suas mães, irmãs, esposas na hora de decidir a condenação do goleiro. "Dona Sonia (mãe de Eliza), praticamente uma idosa, é que está cuidando de uma criança de quem tiraram o direito de ser amamentada, porque mataram a mãe dela", disse, batendo na mesa repetidamente.
Se dirigindo ao júri, ele disse ainda: "Os senhores querem ser marcados como jurados que absolvem bandidos, canalhas, sem vergonha". 
A mãe de Eliza Samudio, Dona Sônia de Fátima Moura, disse não concordar com o pedido de absolvição de Dayanne feito pelo promotor Henry Vasconcelos. "Não é possível. Ele se enganou. Dayanne não pode ser absolvida", disse ela.
Promotor diz que Bruno comandava o tráfico em Ribeirão das Neves
Mais cedo, em seu depoimento, o promotor Henry vasconcelos afirmou  que o goleiro Bruno comandava o tráfico de drogas em Ribeirão da Neves, também em Minas.
"Bruno sempre foi envolvido com o narcotráfico. Isso está nos autos do processo. Várias vezes já se disse, aqui no plenário, através de depoimentos, que quem mandava no narcotráfico de Ribeirão das Neves era Bruno, Macarrão e Cleiton (ex-motorista de Bruno)", atacou o promotor.
Falando para o júri, o promotor leu o depoimento de um segurança do traficante Nem da Rocinha, que relatou que Bruno frequentava a favela, se encontrava com o chefe do tráfico na época e ainda ia à festas "regadas a cocaína e maconha".
O promotor ainda alfinetou Bruno, questionando sua qualidade como jogado. "O futebol perdeu um goleiro razoável" e reiterou, "razoável". Depois, o promotor ainda chamou Bruno de canalha. "Eliza foi para o Rio e passou a ser enrolada por esse canalha", disse Henry.
Henry leu ainda uma carta de amor que Bruno escreveu da cadeia para Fernanda Castro, sua namorada na época. "Estou louco de vontade de ficar com você, de te beijar, de te abraçar, de fazer amor com você.. Que vontade! Estou com o coração explodindo", escreveu o goleiro. Ingrid Calheiros, atual mulher do jogador, no plenário ouviu a apresentação da promotoria em silêncio.
A acusão ainda leu mensagens de celular enviadas por Eliza a um amigo: ""Terra do Bruno? Vou só com passagem de ida. Vão me matar lá. Você ri? Porque não é com você. O Bruno é maluco", escreveu Eliza.
Bruno chega para o quarto dia de julgamento | Foto: Alexandre Brum / Agência O Dia
Bruno chega para o quarto dia de julgamento | Foto: Alexandre Brum / Agência O Dia
Com isso, o promotor tentou mostrar ao júri que a jovem tinha medo do goleiro e que relatava para vários amigos as ameaças que sofria. Enquanto Henry Vasconcelos falava para o júri, o advogado de Bruno, Lúcio Adolfo, tentou fazer um protesto à juíz Marixa Rodrigues. "O promotor está cuspindo nos jurados, excelência", disse o defensor.
O promotor questionou ainda o depoimento de Bruno perante o júri. "Este criminoso e facínora que matou Eliza Samudio ligou para o Jorge (primo do goleiro) e para o Macarrão diversas vezes na noite do sequestro da vítima, na noite do dia 10 de junho de 2010", contou Henry. Em seu interrogatório, Bruno afirmou que nesta noite estava com Ingrid Calheiros em uma praia tentando reatar a relação com a, então ex-noiva, e que não atendia a ninguém.
"Isso mostra que Bruno estava no comando, no controle, no monitoramento da morte de Eliza Samudio", declarou a promotoria. "Ele mentiu vergonhosamente dizendo que não sabia quantas pessoas estavam sob sua responsabilidade", continuou.