Rio -  Para tentar impedir que falhas como a ocorrida no Instituto Nossa Senhora Medianeira possam culminar com vítimas, a Câmara de Vereadores de Barra do Piraí decidiu agir. O vice-presidente da Casa, Pastor Brum (PR), da Comissão de Educação, com apoio dos outros 14 vereadores, está elaborando projeto de lei que dificulta o acesso de intrusos nas escolas e seus arredores. Na escola de João Felipe, uma funcionária liberou o menino após receber falso telefonema da assassina se passando pela mãe da criança. 
Cerca de 500 pessoas fizeram protesto em frente à delegacia de Barra do Piraí para pedir uma punição rigorosa à manicure acusada de matar João Felipe | Foto: Reprodução internet
Foto: Reprodução internet
“Nossa proposta é obrigar todas as 35 escolas municipais, 20 estaduais e 20 particulares, incluindo creches, a instalar câmeras de vídeo dentro e fora de suas dependências. Além disso, as instituições deverão entregar os alunos aos responsáveis somente com crachás portados por eles, com fotosatualizadas, e criar senhas individuais para os pais, que impedirão que terceiros possam pegar seus filhos de forma clandestina, caso não tenham palavras ou números chaves”, explicou Brum.
Na página do Instituto Medianeira na internet, a direção da escola, que suspendeu as aulas até segunda-feira, também expressou sua dor com o ocorrido por meio de uma nota.
“Parte de nós se foi com João Felipe, uma criança encantadora. Pai, em tuas mãos entregamos essa dor, dai-nos vosso consolo, pois a família Medianeira está inconsolável”, diz um trecho da nota. O delegado descartou responsabilizar criminalmente o colégio nesse caso.
Mãe de assassina pede perdão à família da vítima
Mãe da manicure que confessou ter matado João Felipe Eiras Bichara, de apenas 6 anos, em Barra do Piraí,Simone Oliveira, 39, pediu perdão à família do menino, em entrevista exclusiva ao DIA na manhã de ontem.
“É o mínimo que posso fazer como mãe, mas sei que isso não vai confortar os parentes. Eu estou arrasada também. Quem espera isso de uma filha?”, desabafou, chorando, Simone, que mora no bairro Boa Sorte, na periferia da cidade.
Cerca de 500 pessoas fizeram protesto em frente à delegacia de Barra do Piraí para pedir uma punição rigorosa à manicure acusada de matar João Felipe | Foto: Alessandro Costa / Agência O Dia
Cerca de 500 pessoas fizeram protesto em frente à delegacia de Barra do Piraí para pedir uma punição rigorosa à manicure acusada de matar João Felipe | Foto: Alessandro Costa / Agência O Dia
Com medo de represálias, ela se mantém trancada em casa. Simone disse que ainda não sabe se vai mudar de cidade. Ao buscar pertences da filha na casa onde Suzana de Oliveira Figueiredo, de 22 anos, morava, no Centro, ela foi ameaçada de morte por populares. “Estou com medo do que pode acontecer. Mas também sou vítima dessa tragédia”, alegou.
Simone, que tem mais um filho, contou que criou sozinha Suzana, nascida quando ela tinha apenas 16 anos de idade, pois o suposto pai não quis reconhecer a paternidade. “Fiz de tudo para educá-la até onde pude. Quando completou 18 anos, ela saiu de casa para morar sozinha”, comentou Simone, revelando que a filha tem um “temperamento muito difícil”.
“Ela sempre foi muito rebelde, desde criança. Certa vez, na escola, quebrou um vaso de planta enorme num ataque de fúria inexplicável. Mas nunca soube de outras atitudes piores que a levassem a chegar a esse ponto, de matar um ser humano, ainda mais uma criança”, lamentou.
Na próxima quarta-feira, familiares e amigos do estudante participarão de missa em sua homenagem na Igreja de São Benedito, no Centro, em horário ainda a ser confirmado.
Ontem, a Secretaria de Administração Penitenciária (Seap) negou que Suzana tenha sido espancado no presídio onde está presa, em Gericinó, como sugere foto em que seu rosto supostamente parece inchado, divulgada para a imprensa. Suzana está numa cela com mais uma detenta.
‘Ela era minha confidente’
O delegado da 88ª DP (Barra do Piraí), José Mário Salomão, disse ontem que a mãe de João Felipe, Aline Santana, compareceu à delegacia na noite de quarta-feira. Ela não prestou depoimento, mas, numa conversa informal com o delegado, afirmou que sempre teve bom relacionamento com Suzana que, inclusive, era sua confidente. Em três anos, segundo o relato da mãe da assassina, as duas nunca se desentenderam. Suzana confessou ter matado o menino por asfixia, escondendo o corpo em seguida numa mala em sua casa.
A manicure Suzana de Oliveira está presa em Bangu | Foto: Divulgação
A manicure Suzana de Oliveira está presa em Bangu | Foto: Divulgação
O pai do garoto, Heraldo Bichara Jr., que negou as insinuações de Suzana de que ele teria tido um caso com ela por mais de um ano, deverá prestar depoimento na segunda-feira.
Brincadeiras no táxi
O taxista Rafael Fernandes, 33, que apanhou João Felipe na escola, enquanto Suzana Oliveira ficou aguardando no carro se passando pela mãe do menino, ressaltou que não desconfiou da trama armada pela manicure, porque ela demonstrou bastante intimidade com a vítima.
“Dentro do táxi, eles foram brincando e sorrindo até o hotel. Até cócegas na barriga dele ela fez. Não dava para suspeitar da má índole daquela mulher. Também estou chocado com tudo isso”, garantiu.
Embora Rafael ainda esteja sob investigação, o delegado José Mário Salomão disse que não há nenhum indício de conivência dele com a criminosa.
Ontem, o taxista se eximiu, mais uma vez, de culpa. “Ela (Suzana) tinha feito uma corrida comigo e lhe dei um cartão. Posteriormente, ela me telefonou pedindo a corrida para a escola. Próximo à escola, ela simulou estar falando ao celular e pediu que eu pegasse o garoto. Sou inocente”, defendeu-se.
Além dos pais de João Felipe, o delegado pretende ainda ouvir mais quatro pessoas que tinham intimidade com Suzana , entre elas, o avô do menino. “Não temos dúvidas de que ela agiu sozinha e para se vingar dos pais. Mas a real motivação não conseguimos decifrar”, disse Salomão, que espera concluir o inquérito semana que vem.