Rio -  No mês passado, aqueles que torcem por esta cidade com vocação ao turismo e que está prestes a ser a capital dos Jogos Olímpicos foram pegos de surpresa, amargando uma grande decepção. A Vigilância Sanitária encontrou quilos e pilhas de produtos vencidos no mais badalado hotel do país, o Copacabana Palace. Foi triste ver que teremos a nossa imagem mais uma vez arranhada internacionalmente por uma questão no mínimo básica: servir produtos de qualidade e com a validade em dia. Ainda mais em um local onde um prato de comida pode chegar a custar, nas dependências do hotel, mais de R$ 100.
Depois dessa notícia, comecei a me perguntar como estavam sendo avaliados os nossos principais hotéis e busquei uma das mais respeitadas publicações de turismo do mundo: a Condé Nast and Traveler — www.cntraveler.com, lida por todos aqueles que gostam deviajar e buscam serviços de qualidade. Ali, os hotéis são avaliados por seus quartos, pelos serviços — leia-se treinamento — comida, localização na cidade , design e atividades extras.
O primeiro da lista, o Qualia, na Hamilton Island, Great Barrier, ganhou a nota máxima, cem pontos, em todas as categorias, enquanto o último do top 100 foi o Park Hyatt, em Paris, com uma média de 94,4 pontos. E os nossos cariocas, como estavam antes desse fatídico problema?
O Copacabana Palace recebeu 83,1 pontos, já tendo na comida o seu maior problema, com 78,8 pontos. Ou seja, mesmo antes de o trem ter descarrilado, os avaliadores dessa publicação já tinham visto nesse hotel o seu maior ponto fraco, isso em 2012. Não teria sido, então, o momento de ter investido e melhorado? Ter treinado funcionários e mirado no campeão da lista, o hotel australiano, e, quiçá, ter vislumbrado ser até melhor do que ele? Pelo visto, não!
Passado um ano da publicação, o Copacabana Palace se deixa mostrar como anda capenga nesse quesito. Além do impacto na imagem do mais cobiçado hotel da Avenida Atlântica, o lugar teve de desembolsar mais de R$ 200 mil de multa pelos tais alimentos vencidos e outros tantos R$ 10 mil pela fiança paga para a liberação do responsável pela cozinha, o chefe Francesco Carli.
No entanto, esse não é um problema só do Copa, mas, sim, um sério vício da hotelaria fluminense. O tão badalado Fasano, localizado em uma das mais belas vistas do mundo, teve média 83,1 e ficou atrás do cinco-estrelas da Avenida Atlântica. O ponto que mais chama atenção foram os inacreditáveis 62,5, em serviço, ou seja, um dos piores do mundo no quesito treinamento.
Seria bom, com isso, se resolvêssemos fazer desse limão uma limonada e o treinamento passasse a ser uma categoria a ser vista e lembrada com carinho. Afinal, as críticas estão aí para se construir uma cidade cada vez melhor e da qual tenhamos orgulho de apresentar ao mundo.
Bruno Chateaubriand é jornalista. Twitter: @bchateaubriand