Rio -  Quem depende do SUS para ter atendimento médico reclama da qualidade do serviço oferecido pelos hospitais públicos da Baixada Fluminense e lamenta não ter condições de pagar por um plano de saúde. Mas quem conta com o plano ou pode arcar com as despesas em um hospital particular também não se mostra satisfeito. Foi o queO DIA comprovou ao fazer uma blitz por quatro hospitais de São João de Meriti e Duque de Caxias.
No lotado setor de emergência do Hospital Mário Lioni, em Duque de Caxias, pacientes esperam em pé | Foto: Alessandro Costa / Ag. O DIA
No lotado setor de emergência do Hospital Mário Lioni, em Duque de Caxias, pacientes esperam em pé | Foto: Alessandro Costa / Ag. O DIA
Em Meriti, a operadora de caixa Ana Lúcia Bezerra Farias, 43 anos, levou o filho Wallace, 20, à Casa de Saúde e Maternidade Terezinha de Jesus, que é particular. O jovem sentia fortes dores no estômago e buscou atendimento na emergência da unidade.
Ele foi obrigado a esperar por quatro horas e não ficou satisfeito. “Chegamos ao hospital às 10h25 e só entramos no consultório às 14h30. A consulta foi rápida, não durou nem dez minutos. A doutora disse que é assim, que nem olha para o paciente. Só ouve o que tem a dizer. Nem sequer o examinou”, conta Ana Lúcia, que, irritada, ligou para sua operadora de plano de saúde para reclamar.
O diretor-médico da Casa de Saúde e Maternidade Terezinha de Jesus admite que o grande número de pacientes na emergência dificulta o rápido atendimento, mas nega que a espera seja grande. “Há um exagero por parte da mãe deste paciente. A demora não é tão grande como ela diz”, afirma o médico Athaíde Lobo.Em Duque de Caxias, o técnico de enfermagem André Luís Souza de Carvalho, 29 anos, buscou em uma unidade pública atendimento para a noiva Raquel de Moura, 23, que estava vomitando e com diarreia. Mas a demora o fez levá-la ao Hospital de Clínicas Mário Lioni (HCML).
Não adiantou muito. “Já tem mais de uma hora que estamos aguardando. A emergência é sempre assim. Falta médico”, reclama.
Pacientes enfrentam fila longa e muito tempo de espera para ser atendidos em São João de Meriti | Foto: Alessandro Costa / Ag. O DIA
Pacientes enfrentam fila longa e muito tempo de espera para ser atendidos em São João de Meriti | Foto: Alessandro Costa / Ag. O DIA
Em nota, o HCML alega que “90% dos pacientes que procuram a emergência são de baixa complexidade e sem risco de vida e que estes poderão ter o tempo de espera alargado devido ao atendimento preferencial aos pacientes com doenças de alta complexidade e risco de vida”.
Pacientes do Posto de Atendimento Médico (PAM) de Jardim Meriti, em São João, também reclamavam. “Minha cunhada fez exame de sangue e esperou cinco horas pelo resultado”, conta Levir Lima, 45 anos.
Quatro horas de espera com pé quebrado para fazer radiografia
O encarregado de sinalização Nilo Sérgio dos Santos, 49 anos, sofreu três fraturas no pé numa pelada com amigos e buscou atendimento no PAM Jardim Meriti no dia 21 de fevereiro. Mas, mesmo com dor, esperou mais de quatro horas para fazer uma radiografia e engessar o pé.
Quatro dias depois, Santos voltou à unidade de saúde para marcar consulta com o ortopedista. Dessa vez, a espera foi de pouco mais de três horas.
A prefeitura de Meriti, responsável pelo PAM, alega que Nilo procurou a unidade relatando trauma no pé direito havia mais de 15 dias. “Realizou-se raio-x, imobilização, indicação medicamentosa e emissão de atestado no  período de quatro horas”, diz nota emitida pelo município.
No documento, a prefeitura alega também que no dia 21 de fevereiro o PAM atendeu 1.286 pacientes, movimento acima da média, que é de 300 a 400.
Denúncia em Caxias: Filha diz que irmã pagou para que a mãe fosse bem atendida em Saracuruna
No Hospital Geral Adão Pereira Nunes, em Saracuruna, parentes de pacientes reclamam também dafalta de informação  sobre a saúde dos internados e do tratamento dado a eles. Uma mulher garante que a irmã pagou por um atendimento mais digno à mãe, que fraturou a bacia.
“Nossa mãe disse que estava sendo maltratada e chegou a pedir que a gente a tirasse daqui. Minha irmã deu R$ 30 para uma enfermeira para que cuidasse melhor dela e nos deixasse entrar no quarto, mesmo fora do horário de visita”, afirma Elisângela de Jesus, 39 anos.
Em nota, a direção do hospital diz que “tem todo o interesse em apurar a denúncia e solicita a ajuda da família para identificar o profissional de saúde”.
A Secretaria de Saúde do estado tem quatro hospitais com 641 leitos na Baixada. O prefeito de Caxias, Alexandre Cardoso (PSB), que é médico, diz que falta integração entre município e estado. “Todos querem fazer tudo, e ninguém acaba fazendo nada. Isso sobrecarrega os hospitais. Saracuruna atende pacientes com gripe, topada do dedão e não quem quebra a bacia”, afirmou ele, que promete ampliar o Saúde da Família para reduzir o problema.