Rio -  Mais de 80% da população do planeta sofre, sofreu ou sofrerá de dores na coluna. Espere! Esse não é um texto de medicina. Apenas li isso certa vez e pensei como era bom não estar sozinho. Sim, sou o que chamam de estatística. Faço parte destes 80% e com forte peso. Antes dos 40, minha ficha apresenta duas cirurgias lombares, a primeira aos 22, e muita, muita dor pelo caminho. Com o tempo, adquiri conhecimento para descrever meu diagnóstico: hérnia de disco em L4/L5 e L5/S1 com forte lombalgia, compressão do nervo ciático e irradiação pelas pernas.
Bom, sabe quando pessoas passam por experiências parecidas e isso as aproxima? E uma se sente confortada por saber que não é a única, que não está sozinha? Pois bem, é isso! E sobre superar obstáculos e rir de si mesmo diante do ridículo.
Lembro de, antes da segunda cirurgia, passar dois longos anos tentando escapar da faca. Entre diversas consultas com medalhões no assunto, sessões de quiropraxia, RPG, acupuntura, massagens, alguns episódios marcaram. Como uma tarde em que me sentia melhor e caminhava por Ipanema quando espirrei. Travado e empenado como uma parábola, fiquei agarrado a uma vaca da ‘Cow Parade’. E da sessão de acupuntura em que uma agulhada na testa (!) me deixou como se tivesse sido picado por uma abelha enfurecida... Lembro ainda de ter visitado um centro espírita, logo eu, um fervoroso e inveterado... ateu.
Mas nem tudo é dor. Em minhas andanças, uma experiência fantástica em Amsterdã marcou. Não, não me refiro a viagens alucinógenas, famosas naquela cidade. ‘Float’. Uma flutuação quase mágica, numa banheira com água sei lá quantas vezes mais salinizada que a do Mar Morto. Boiar ali foi como gravitar em outra dimensão, uma das mais agradáveis experiências da minha vida. Foram momentos sem dor...
Quando me dei por vencido e decidi pela cirurgia, mais uma maratona. Cada médico, uma proposta diferente. Um queria instalar tantos parafusos que quase entrei em parafuso. Uma dezena de consultas e uma boa grana mais tarde, escolhi meu caminho. Operado pela segunda vez, cuido da minha coluna com métodos especiais para atos simples, como sentar, levantar, dormir, calçar. Vida quase normal, uma hora de exercícios diários. Futebol não mais, para o bem do futebol. Todo cuidado é pouco.
Moral da história: reserve tempo para a saúde. Do contrário, cedo ou tarde encontrará tempo para a doença.
Eduardo Preciado é sócio do restaurante Minimok e sofre com dores na coluna