Especial Tamborim: Entre histórias e ideais
Reportagem especial trata das diversas questões que envolvem
o famoso e popular instrumento de percussão no Carnaval do Rio
POR RAFAEL ARANTES
Tamborim sempre foi um instrumento bastante popular nas escolas de samba | Foto: Arquivo
Eduardo admitiu a existência de vaidade entre diversas alas | Foto: Alex Nunes / Divulgação
Na Mocidade desde 1997, Eduardo Amorim vivenciou alguns dos anos da magnífica e relicária ala de tamborins da escola de Padre Miguel. Segundo Eduardo, que já desempenhou também a função de diretor, a rivalidade saudável encontrada antigamente parece ter sofrido algumas mudanças nos dias de hoje.
"Ilha e Mocidade tiveram alas que realmente se mostraram em um alto nível nos anos 80 e 90. Atualmente, Tijuca e Portela se destacam, mas não vejo com uma proporção tão grande como nos outros casos, principalmente por não existir uma diferença tão expressiva para as demais escolas. Mas, na verdade, existe sim uma vaidade entre alguns ritmistas, e até mesmo seus diretores", comentou Eduardo, que teve o pensamento reforçado por Gabriel Pessoa, o famoso Biel da Grande Rio.
"Sempre achei as antigas rivalidades algo muito sadio, nos dias de hoje que vejo uma intensidade maior por diversos fatores. Creio que até mesmo a atual facilidade de conseguir desfilar pode estar colaborando com isso. Existe uma demanda muito grande nos dias de hoje, e o modo mais simples que as pessoas tem de conseguir fazer parte de uma bateria acaba gerando uma certa vaidade. Acho que faltam maiores desafios. A dificuldade te faz crescer, te faz ganhar seu espaço", ressaltou Biel.
Biel (centro) acredita nos desafios como grande aliado para o crescimento | Foto: Divulgação
Tipos de toque são estudados
Diferenciado facilmente dos demais integrantes de uma bateria de escola de samba, sua sonoridade também é um dos motivos que ganha destaque pelos entendedores e praticantes, e os diferentes tipos de toque são fortes assuntos para as críticas e pautas das conversas dos sambistas.
Além da polêmica com as maneiras de se tocar o tamborim, outra curiosidade gera uma repercussão bastante intensa entre as pessoas que executam o seu toque: os desenhos. Os tipos de batida que se encaixam junto ao tradicional carreteiro estão sendo inovadas a cada dia, e o que mais repercute neste assunto é a maneira de produção dos toques. Possivelmente preparado sobre a melodia de cada samba-enredo ou através do tempo e compasso musical, os famosos desenhos de tamborim geram grande discussão pelo Carnaval carioca.
Portela aposta na 'ousadia'
Diretor da Portela, Vinícius Ximenes é um dos adeptos ao estilo mais "ousado" das batidas. Claramente simpatizante dos desenhos em cima do tempo musical, o comandante da ala azul e branca não esconde a busca por uma identidade pessoal ao trabalho.
Diretor de tamborim da Portela aposta na inovação dos desenhos | Foto: Divulgação
"Sempre procurei fugir da lógica, da linha tradicional e buscar algo que pudesse ser tornar uma característica para a ala de tamborins da Portela. Algo que pudesse ser identificado de longe, sem visualização, apenas pelo som. Hoje, consegui imprimir uma identidade com apelo da ousadia, associando sempre a alguma temática musical ao enredo escolhido pela escola. Com o passar dos anos, a proposta de surpreender se tornou cada vez mais sequencial, mas sem querer brilhar mais do que a bateria, pois o que tem que sobressair é o conjunto".
Linha melódica e integração
Diferentemente da escola de Madureira, a Unidos da Tijuca tem à frente de seus tamborins um líder com um pensamento distinto. No cargo desde 2008, Diogo Oliveira, o Coringa, busca criar e caracterizar o toque dos ritmistas da Pura Cadência com desenhos mais próximos da melodia dos sambas. Outro tópico exaltado pelo diretor é a procura por uma grande integração de seus componentes.
Na Tijuca, integração da ala é bastante valorizada pelo diretor Coringa (centro) | Foto: Divulgação
Elo entre estilos distintos
Entre os dois estilos distintos, encontra-se uma tentativa pela mescla das características. Aos 50 anos de idade, Maurício Queiroz, que comandou a ala de tamborins da Tradição neste ano, ressalta que ainda procura um método de criação diferente para seus trabalhos. A união do estilo melódico com a ousadia dos tempos musicais é visto como grande aposta para o experiente sambista.
"De uns 10 anos para cá, tenho sempre preferido desenhos em cima do tempo ao invés do baseamento nas letras e melodias. Acho que esta alternativa já se tornou muito óbvia e repetitiva. Até mesmo neste ano, tivemos uma grande escola com recursos absolutamente iguais aos de anos anteriores, em função da melodia semelhante. Fui muito adepto aos desenhos que acompanham a melodia dos sambas, mas hoje, penso que este recurso já está superado. É preciso mais criatividade. Se fizermos uma mescla entre melodia, letra e tempos musicais com inéditas criações, teremos desenhos que acompanharão a modernidade nas baterias. Esta junção seria uma grande metodologia", projetou Maurício.
Nenhum comentário:
Postar um comentário