Rio -  O mundo machista do futebol sofreu duro golpe. Uma cartilha criada pela Federação Alemã de Futebol encoraja atletas homossexuais a saírem do armário. Ano passado, a Federação Holandesa já havia levantando a questão com campanha semelhante: “Gay? Não há nada de estranho nisso”. E no país do futebol, será que a cartilha pega?
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Michael quer acabar com preconceito | Foto: Divulgação
“Tem que ver como vai ser fora. Se lá der certo, pela história de preconceito que existe na Alemanha, por que não usar aqui também?”, sugere o meio de rede Michael, do Vôlei Futuro.

Gay assumido, Michael já sentiu na pele o peso da intolerância. No jogo da Superliga de 2012 contra o Sada Cruzeiro, ouviu, constrangido, o coro de "bicha" em um estádio lotado. Após ser hostilizado, surpreendeu ao assumir sua homossexualidade.

“Assumi mais para a mídia, porque todo mundo já sabia. Mas o problema em Contagem partiu da torcida organizada do Cruzeiro. Se eu fosse jogador de futebol seria mil vezes pior. Acho que poderia até receber ameaça de morte. No vôlei é mais tranquilo”, argumenta o jogador, que deseja ser reconhecido no esporte somente pela sua performance nas quadras.

Há mais de 25 anos, o ex- árbitro de futebol da Federação Carioca Paulino Rodrigues da Silva, o "Borboleta", quebrou tabus ao inaugurar - com os amigos Jorge Emiliano dos Santos, o "Margarida", e Walter Senra, o "Bianca" - a "arbitragem gay" no futebol brasileiro. Sem constrangimento, Borboleta não abria mão de desmunhecar e assumiu com orgulho a sua opção sexual.

“É muito importante que as pessoas deixem de ficar em cima do muro e saiam do armário. Assumir a sua condição sexual é o primeiro passo para alguém ser feliz na vida pessoal e profissional”, ensina o ex-árbitro: “Essa batalha é difícil, mas já houve grandes avanços. Não podemos abrir mão de lutar”.

Chance de combater a homofobia

Especialista em violência no futebol, o sociólogo Mauricio Murad vê com bons olhos a cartilha alemã.

“Com essa iniciativa podemos nos aprofundar no combate à homofobia. Seria tão bom que esse terror acabasse, principalmente em um país tão preconceituoso e reativo à questão homofóbica”, diz.

A psicóloga esportiva Maíra Ruas Justo também é favorável à cartilha, mas ainda acha que o fim da discriminação está longe.

“Só no dia em que um grande ídolo do esporte sair do armário isso pode mudar. Pode até haver piadinhas no começo, mas o respeito vai prevalecer”.