Rio -  O historiador Ricardo Medeiros Pimenta diz que o fim das fábricas de tecidos no Rio levou muitos trabalhadores a perderem sua identidade social. As consequências do fim das indústrias são tema de seu livro ‘Retalhos de memória’, que traz relatos da vida de homens que trabalharam na confecção de tecidos entre as décadas de 1920 e 1960.
Foto: Paulo Alvadia / Agência O Dia
Foto: Paulo Alvadia / Agência O Dia
Por que o sr. se interessou por esse tema? 
Sempre me interessei por profissões que entraram em extinção. Um dia, observando as chaminés das indústrias, me dei conta de que muitas eram de fábricas de tecidos. Isso acabou despertando meu interesse pelos trabalhadores têxteis. Resolvi pequisar: fui ao Arquivo Geral da Cidade e à Biblioteca Nacional e entrevistei parentes e ex-trabalhadores de fábricas no Rio.
O que sr. descobriu?
Vi que esses trabalhadores, todos idosos, tinham sua identidade muito atrelada ao espaço de trabalho. Com a falência do setor, a partir dos anos 50, os mais antigos, que não tinham uma formação técnica, não conseguiram se realocar no mercado. Ao se aposentarem, a única referência que tinham de vida social se apagou. Eles falam do trabalho na fábrica com uma carga nostálgica muito grande. Quando a conversa vem para o presente, eles se sentem esquecidos e desvalorizados.
Como eram aquelas fábricas?
Entre os 1920 e 1940, havia um ambiente insalubre. Mas as pessoas que entrevistei falam disso com muito orgulho. O importante era ser trabalhador.