Lei das domésticas eleva busca por diaristas
Foto: Agência O Dia
“Desde novembro começou a enfraquecer a procura por domésticas. Agora está superfraco e o que recebemos são indicações para classes A e AAA que não têm problema em pagar R$ 2 mil para empregada. A classe C, que pagava entre R$ 800 a R$ 1 mil, não quer contratar mais, e já opta por diarista”, diz Camila Aragão Pansica, diretora-executiva da agência Gentil, que recruta trabalhadores domésticos em São Paulo.
“A previsão é que neste ano possa haver um aumento no número de diaristas, o que vem se manifestando nos últimos anos”, diz Hildete. “[Ter empregada todo dia] é um luxo, mas é o correto.”
“Quem não tem idoso ou criança em casa vai dispensar o empregado e contratar diarista, comprar comida congelada”, diz. “Desde que se começou a falar nessa PEC já se está gerando desemprego.”
Para a presidente do Sindicato das Empregadas Domésticas do Município do Rio de Janeiro, Carli Maria dos Santos, o preço médio das diárias deve dissuadir muitos de substituir a funcionária por uma faxineira eventual.
“Se você for avaliar, no Rio a diária de uma faxineira está custando de R$ 100 a R$ 150, dependendo do bairro. Então é melhor pagar os 8% referentes ao FGTS”, diz Carli. “Aquela pessoa que não está acostumada a sequer fazer o seu café não vai pagar diarista”.
Hildete, que não espera um aumento do desemprego, tem avaliação semelhante.
“O que vai encarecer é a hora extra para quem quiser ter uma empregada com jornada de 10, 12 horas. Se ela fizer a jornada normal, só vai ter o FGTS (8% sobre o salário)”, diz. “E hora extra é uma decisão entre patrão e empregador.”
Profissão em decréscimo
O emprego doméstico só deixou de ser a principal profissão das mulheres brasileiras em 2011, quando atingiu 6,2 milhões de trabalhadoras ocupadas, ou 15,6% do total, ligeiramente abaixo dos 17,6% representados pelo comércio. Segundo Hildete, foi a primeira vez que isso ocorreu desde, pelo menos, o censo de 1872, o primeiro do País. A desidratação ocorre sobretudo pelo não-ingresso de novas trabalhadoras na categoria. As filhas, argumenta a pesquisadora, não seguem a mesma profissão das mães.
Outro fator a contribuir para a escassez das profissionais é o pacote de gratificações oferecido por empresas, diz Camila, da agência Gentil. “Elas tentam entrar no setor privado como copeiras, auxiliares de limpeza e até como terceirizadas por conta dos benefícios que não tinham em casa de família. Tem muita candidata aqui da agência que está desempregada e ainda assim prefere trabalhar por diária, porque cobra R$ 100 e, no final do mês, chega a ganhar até R$ 2 mil”, diz.
A agência Kanguruh, do Rio de Janeiro, cita ainda outro fenômeno envolvendo essas profissionais, que assumem novas funções dentro do lar, como a de cuidador de idosos.
“Elas estão se especializando para ganhar mais, cerca de R$ 1,5 mil por mês”, afirma Ana Camila Bottechia, administradora da agência. “Um cuidador de idoso é empreendedor individual e não tem vínculo empregatício. De 30 pessoas que participaram do nosso último curso, 20 eram empregadas domésticas”, diz.
Ao fim de dois dias, candidatos saem com a possibilidade de dobrar o salário e ter uma jornada dividida com outro profissional. “Não tem esse negócio de ficar mais um pouquinho. Você cumpre seu horário e vai embora porque vai ter outra pessoa para pegar o plantão”, diz.
Reivindicações antigas
De acordo com Ângela Clara, diretora da Unire, agência com atuação em São Paulo, a carga horária era a principal reclamação da categoria. “Na lei estava escrito que deveria haver pelo menos uma folga semanal remunerada, preferencialmente aos domingos. E o empregador estava no direito de liberar às oito horas da manhã do domingo e querer que ela estivesse de volta às oito da manhã da segunda-feira”, explica Ana Clara, que coloca ainda FGTS e seguro-desemprego como principais reivindicações das empregadas.
“Quem está com maior expectativa são as domésticas, que temem a diminuição do salário. Antes, empregadores pagavam o INSS todo, sem descontar do salário dela. Agora isso não deve mais acontecer”, diz Ângela Clara, . “Já que vai ter de pagar direitinho, vai descontar direitinho também”, completa.
“Tem toda uma paranoia, um 'meu Deus do céu o que vai ser', mas, no fundo a lei é necessária”, diz a representante da Unire.
As informações são dso repórteres Vinícius Oliveira e Vitor Sorano, do iG
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