Rio -  Nasci numa família de classe média alta, sou carioca da Zona Sul e trabalho com moda desde os 14 anos. Tinha 15 anos quando bebi pela primeira vez. O álcool já caiu torto: bebi compulsivamente e saí da festa derrubada. Cheguei em casa de manhã, com os sapatos nas mãos, passando mal e apaguei. Em seguida, fumei maconha e achei um horror. Mais tarde, aos 17, comecei a cheirar cocaína. Parecia purpurina. Quando experimentei, falei: “Gente, é isso, me encontrei”. Naquela época, na década de 70, eu não tinha informação alguma sobre os efeitos nocivos desta droga. Depois do meu casamento e do nascimento do meu filho, dei uma parada.
Passei uma temporada em Belo Horizonte, voltei para o Rio e mergulhei na noite. E a noite carioca era regada por muita bebida. Era um mundo de ‘glamour’: uma limusine vinha à minha casa para me levar às festas e às boates da moda. Nos anos 80, já era uma mãe relapsa, só cumpria minhas obrigações básicas e, já separada, tinha muitos namorados. Meu filho me viu cheirando muitas vezes e, aos 14 anos, ele foi morar com a família do pai. Nessa época, perdi o controle. Me desfiz da minha loja e passei a trabalhar para terceiros. Comecei a mentir para mim mesma. Saía de noite, não conseguia acordar e inventava uma mentira. Isso acontecia repetidamente.
Chegou uma hora que não deu mais. Acabei pedindo para sair antes de ser dispensada. Na década de 90, sem trabalho, comecei a traficar cocaína para pagar o meu vício. Era chamada de traficante de ‘tapete persa’ porque só vendia para gente bacana. Por causa da droga, sofri vários acidentes de carro e num deles quase perdi uma perna. Numa noite, encontrei um grupo de hippies na Praça Santos Dumont, na Gávea. Fui com eles para o bairro de Coelho Neto e, na manhã seguinte, acordei sob uma laje, dormindo na rua, como uma mendiga.
Resolvi, então, parar, aquele episódio foi um sinal. Passei a frequentar os Narcóticos Anônimos e levei um ano para entender a minha doença. Há 16 anos não bebo nem cheiro cocaína. Nossos jovens deveriam ser informados na escola e em casa sobre os malefícios das drogas e do álcool, esse tema deveria ser curricular. E os anúncios de bebida deveriam ser proibidos, assim como o seu uso em programas de TV, como acontece no ‘Big Brother Brasil’. Não proibiram as propagandas de cigarro? Por que ainda não fizeram isso com o álcool? Recentemente, o Brasil chorou pelo cantor Chorão. Mais um exemplo triste da vitória da droga. Até quando?
Lulí Bevilaqua é estilista