domingo, 24 de março de 2013

‘Meu sonho é novela das nove na Globo’



‘Meu sonho é novela das nove na Globo’

Sabe aquele ditado de “fazer do limão uma limonada”? Ele se encaixa perfeitamente na vida de David Brazil. O promoter tinha tudo para “dar errado” (gay, gago e longe dos padrões estéticos). Mas a seu favor há um carisma impressionante, como poucos têm no Brasil. Da extrema pobreza no Nordeste, David chegou a um círculo social onde estão os ricos e famosos. O segredo é que ele nunca esquece de onde veio. Divirtam-se com este bate-papo descontraído com o gago mais famoso do Brasil.
Foto: Divulgação
Você nasceu em uma família pobre de Pernambuco?
Pobre, pobre, pobre de marré de si. Sou filho de dona Maria, empregada doméstica, e seu Luis (ambos morreram).
Qual era o seu nível de pobreza?
Comia farinha, coentro, que a gente plantava no quintal, e sal. Quase todo dia. Ou banana verde cozida com caroço de jaca cozido. Ah! A gente comia também tanajura.
São todos evangélicos?
Todos. Eu também, mas não sou praticante.
Você era gay aos 15 anos?
Era bem danadinha. Lá na igreja, eu já era pintosinha mas me segurava…
Como veio parar no Rio?
Meu sonho era ser modelo.
Fotos: Divulgação
Oi? Não entendi, modelo?
Sim, eu era bibinha louca. Pensa numa Lacraia do Nordeste, magrela, pintosa…
Você veio pro Rio virgem?
Que nada. Perdi aos 13 anos com um vizinho em troca de um chiclete Ploc, que vinha com uma tatuagem junto, lembra? Mas não senti nada. Fui sentir prazer sexual aqui.
Você já transou com mulher?
Não. Na adolescência, tentei com uma vizinha, ela era bem fogosa. Estávamos já pelados, mas quando eu fui chegando perto, era um cheiro de bacalhau horroroso. Nunca mais me aproximei.
Voltemos: como você veio parar no Rio?
Eu era empacotador da São Braz, uma empresa de café e farinha de milho. Lá, conheci um casal do Rio, amigos de uma família que sempre me ajudou. Eu disse que meu sonho era vir para o Rio e eles me trouxeram para passar 15 dias de férias.
Você veio de ônibus?
Claro! Quase três dias dentro de um (ônibus) Itapemirim, a passagem mais barata que tinha. Trouxe minha comida numa embalagem de plástico e, para completar, fui assaltado e levaram. Pense numa pessoa que já sofreu na vida. Prazer!
Mas você nunca fez disso uma dor?
Não! Eu nasci com espírito feliz. Nasci para ser feliz.
Foto: Divulgação
E quando você chegou ao Rio, qual foi sua reação?
Quando passei pela enseada de Botafogo, prometi pra mim mesmo: só volto ao Nordeste de férias. E assim foi.
Algum problema na vida acentuou sua gagueira?
Como minha mãe não via TV porque era coisa do demônio, ela disse que minha gagueira era castigo, porque sempre fui rebelde.
Não era por você ser gay?
Ela já morreu e nunca perguntou se eu era gay. E eu nunca disse nada. Quando ela me via dando pinta na TV, dizia: “Ô, meu Deus, como meu filho é maluquinho”. Mas é claro que ela sabia.
Mas e a gagueira?
Sempre fui muito ansioso e, para piorar, meu melhor amigo de infância era um gago profissional.
Você fez tratamento?
Fiz, aqui no Rio, mas não tinha grana para continuar.
Aqui no Rio, qual foi seu primeiro emprego?
Cheguei ao Rio numa quarta-feira. Na segunda, já estava na fila para ser balconista do restaurante Natural de Ipanema. Aliás, emprego aqui no Rio tem muito, mas a pessoa tem que querer trabalhar.
Você já trabalhou como o que na vida?
Ralei muito, trabalhei como faxineiro em um salão de cabeleireiro…
E como os famosos apareceram na sua vida?
As primeiras celebridades que eu vi na vida foram Lady Francisco, Diogo Vilela e Maitê Proença. Tudo lá no Natural. Diogo Vilela não é meu amigo, mas tenho um carinho enorme por ele. Lembro que fui passar o cartão dele e estranhei, porque o nome que estava lá era o nome verdadeiro dele, que é diferente.
Como você se chamava?
David Santos.
Você nunca usou o Francisco do seu nome?
Não. É muito masculino.
Foi no Bufalo Grill que começou sua vida como promoter?
Foi. De caixa eu virei recepcionista, só falava boa tarde e bom dia, e depois os clientes pediram para eu ser o relações públicas do restaurante.
Quando saiu a sua primeira foto no jornal?
Foi publicada em O DIA, na coluna da Christine Ajuz, foto do Paulo Jabur. Era eu, Andrea Veiga, Adriana Esteves e Marcos Montenegro. O Paulo me ligou para pegar meu nome. Aí eu pensei: eu não vou falar que meu nome é David Santos. Lembrei, lógico, da ‘Yes, Brazil’, uma marca de roupas que eu adorava. Então, virei David Brazil.
Você pensa em colocar Brazil oficialmente no nome?
Vou entrar com o processo para mudar. Quero virar Francisco David Brazil dos Santos. Se a Xuxa pode, por que eu não posso?
Em que momento da sua vida você percebeu que venceu na vida?
Quando fiz meu primeiro evento pela rádio FM O Dia. Eles me convidaram, achei que seria um fracasso. Meu primeiro evento como “presença de David Brazil” foi no pagode de um clube de Olaria.
E como foi?
Quando pisei no palco, o público gritava: “viado, viado”. De repente, me veio algo à cabeça. Eu falei no microfone: “vocês estão doidos? Meu nome não é Tiago! Tiago? Meu nome é David. David!”
Você ainda é alvo desse tipo de ofensa?
Não. Quando me mandam tomar naquele lugar, eu digo: “é só marcar que eu vou”. Eu odeio ser chamado de viado.
Você já namorou?
Duas vezes. Mas isso já faz muito tempo.
Por que você não namora?
Sou o Romário na versão gay.
A impressão que eu tenho é que você não confia nos “bofes”.
Não. Eu sou assim. Adoro ser sozinho, dirigir sozinho. Eu vim nessa vida para ser feliz em carreira solo.
Quem foi a sua primeira amiga famosa?
A Cristiana Oliveira. Ela era a Paloma de ‘De Corpo e Alma’, de Glória Perez. Eu era relações públicas do Bufalo Grill e organizei a festa de aniversário dela. Ela era a grande estrela da época.
Quem são suas amigas atualmente?
Ai, não posso esquecer nenhuma: Cristiana Oliveira, Juliana Paes, Carolina Dieckmann, Giovanna Antonelli, Susana Vieira, Preta Gil e, lógico, Ivete Sangalo.
De qual artista você não gosta?
Minha maior decepção foi com o Luciano, do Zezé Di Camargo. E eu era muito fã.
O que houve?
Um belo dia, eles fizeram show aqui no Rio e vieram jantar no Porcão. O Luciano estava começando a namorar a Flávia (atual mulher do cantor). Quando ela entrou, ela parou o lugar, linda, elegante… Eu, brincando, como eu sempre faço, falei alto: “Meu Deus, que isso? Isso não é mulher, é um travesti”. Aqui no Rio, as mulheres não se arrumam tanto. Só os travestis se montam. Anos depois, fui pro cruzeiro do Zezé gravar para o SBT. Quando cheguei, o Luciano saiu de perto. E eu, sem entender nada. Eu tinha que entrevistá-lo, mas a produção dele me chamou na cabine e disse que eu tinha maltratado e faltado com o respeito com a Flávia. Eu fiquei tão mal… Tentei passar e-mail, dizer que foi uma brincadeira.
Mais alguém?
Não falo com o Edmundo. Ele é bipolar. Um dia ele fala com você, no outro não fala, te agride. Eu nunca sabia qual seria a reação dele.
Os artistas que vêm ao Porcão pagam a conta?
Claro! Quando eu convido, não pagam. Eu tenho uma cota de convites por mês. E só convido quem é top!
Quais são suas fontes de renda?
Porcão, FM O Dia, Meia Hora e as presenças em eventos (duas ou três na semana).
Você circula por todos os ambientes, inclusive alguns bem perigosos, não é?
Uma vez, fui abordado em Bangu por três homens com fuzis. Quando eles me reconheceram, fizeram a maior festa! Só faltou pedir autógrafo. Na Chatuba, por exemplo, antes da UPP, eu sempre circulei livremente.
Seu bom coração é capaz de perdoar Amin Khader?
Não.
Foi uma brincadeira dele?
Tenho certeza absoluta de que ele só queria me denegrir e testar a popularidade dele. É só olhar as entrevistas na época que ele disse que nunca foi meu amigo. Ele era meu irmão. O pior é que essa pessoa fala para todo mundo que nós tivemos um caso por 11 anos.
E isso não é verdade?
Sangue de Cristo! Eu juro. Claro que não, ele inventou uma história recheada de detalhes, de traições… que não existe. Quem me conhece sabe que ele não é meu tipo.
O que falta na sua vida?
Falta um papel de destaque em uma novela das nove da Globo. É o meu sonho. E não gaguejo em texto decorado!
Não serve da Record?
Não, quero a Globo! Lá, as pessoas vão, fazem novela, mas não acontecem.
Você está rico?
Rico, não, mas já há 5 anos eu pago meu IPTU e meu IPVA em cota única. Isso para mim é riqueza. Eu tô rico!
Postado por: Leo Dias às 11:10 pm :: Nenhum comentário

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