Milton Cunha: Sempre fui alguém
Respondi prontamente: “Nunca houve este tempo em que eu não era ninguém; querida, sempre fui alguém, estrela de mim mesmo. Sempre tive identidade, desejo, objetivo. Estudei, vivi livre como queria, respeitei meu semelhante, lutei, escrevi um livro, plantei uma árvore, fui traído, traí, sofri, levantei, sacudi a poeira e arranjei um contrato na TV que não era um fim, apenas um dos meios possíveis para me divertir, assim como o Carnaval, a Universidade de Belas Artes, a reunião de amigos da vida inteira, o boteco da Figueiredo Magalhães, a turma de Barra de Guaratiba, etc e tal.
Alias, vocês viram o embate entre o maravilhoso repórter Marcio Gomes e o querido ator Paulinho Vilhena, na entrada do Salgueiro para desfilar a tal Fama como enredo? O Marcio perguntou: “Paulinho, como você lida com a fama?” “Eu não acredito nela...”, respondeu o ator. Marcio insistiu: “Mas como é ser famoso?”. Paulinho repetiu: “Eu não acredito nisto”. Marcio agradeceu e eu fiquei pensando se eu acredito ou não na fama. Acho que é assim: fama é construção pós-moderna de mitos da sociedade da imagem, para consumo da comunicação de massa; mas como ela limita (e muito) o famoso, este a questiona e a repele, para alargar suas possibilidades de ser humano, e não virar joguete na teia limitante desta sedutora aranha. E você, já é alguém para você e os seus, ou é um zé-ninguém que acredita nesta tolice de que a perfeição é qualidade dos famosos da TV?
Milton Cunha é carnavalesco e Doutor em Ciência da Literatura pela UFRJ. | E-mail: chapa@odianet.com.br
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