São Paulo -  O acusado de matar Mércia Nakashima, Mizael Bispo, chegou por volta das 8h20 desta segunda-feira, no Fórum Criminal de Guarulhos, em São Paulo. Pela primeira vez um julgamento será transmitido ao vivo.
Ele estava preso no Presídio Militar Romão Gomes desde fevereiro do ano passado. Duas viaturas da Polícia Militar fizeram o trajeto do presídio até o fórum.
Plateia disputada
O assassinato da advogada Mércia Nikie Nakashima, que tinha 28 anos em maio de 2010, causa até hoje comoção e “histeria” em alguns moradores de Guarulhos, onde viviam e trabalhavam a vítima e o acusado, o também advogado Mizael Bispo de Souza (42 anos), suspeito de cometer o crime por não aceitar o fim do namoro entre os dois.
Mizael poderá ficar em sala especial enquanto responde por homicídio | Foto: Reprodução Internet
Mizael poderá ficar em sala especial enquanto responde por homicídio | Foto: Reprodução Internet
A ansiedade pelo julgamento – que começa nesta segunda-feira – não diminuiu nem com o anúncio de que os prováveis cinco dias de júri serão transmitidos pela TV: diariamente moradores da região vão ao fórum dacidade pedir senhas para garantir lugar no disputado auditório, que deve receber principalmente advogados, estudantes e familiares dos envolvidos no caso.
Os funcionários do fórum recebem até candidatos para o júri popular, uma escolha que cabe exclusivamente ao juiz, que pode pedir a autoridades locais ou associações de classe a indicação de cidadãos que sejam absolutamente isentos no caso.
A fixação pela história também trouxe dor de cabeça à polícia de Guarulhos, que precisou investigar dezenas de denúncias anônimas. O inquérito policial cita a ligação de homem que dizia ter visto o casal juntos depois do dia 23, data do crime. Houve até quem assumisse a autoria do assassinato.
Mas a denúncia que mais chamou a atenção dava outra versão para o crime: interessado em extorquir a família de Mércia, Mizael teria contratado dois capangas para sequestrar a advogada e mantê-la presa nos fundos de uma residência na cidade de Nazaré Paulista, cidade onde o assassinato de fato ocorreu.
A polícia encontrou o lugar, os suspeitos apontados pelo denunciante, mas desistiu dessa linha de investigação depois do testemunho de um pescador, que apontou o real local do crime: a represa em que o corpo e o carro de Mércia foram encontrados.
O delegado responsável pelo inquérito, Antônio de Olim, descreve no processo “uma série de denúncias anônimas”, como a de um certo Henrique, que ligava para a família da vítima “passando informações falsas, solicitando resgate para a devolução de Mércia”. Só no dia do funeral, ele ligou cem vezes para membros da família Nakashima.
“Tais versões são fruto de fixação por parte desses indivíduos com o caso”, diz Olim, que atribui “o clima de histeria na sociedade” à divulgação do caso pela mídia.
Transmissão
O promotor que vai tentar condenar Mizael, Rodrigo Merli Antunes, lembra que a organização do julgamento tomou as providências para evitar que o clamor popular influencie o júri. “O quarteirão está isolado. Lá dentro ninguém vai ouvir manifestação, e quem o fizer no auditório será posto para fora.”
Ele acredita que, além de evitar que os cidadãos se “digladiem por senha”, a transmissão pela TV “vai mostrar à população como funciona o júri, permitindo sugestões e críticas para a instituição”.
“Hoje no Brasil se conhece mais como funciona o júri norte-americano do que o brasileiro. Da minha parte, eu vou esquecer que estou diante das câmeras.”
Com o iG