Rio -  Na esteira da especulação imobiliária que já atinge a Zona Portuária, a remoção de moradores das favelas gera polêmica.
De acordo com os habitantes do morro da Providência — muitos com a inscrição SMH (Secretaria Municipal de Habitação, ou “Saia do Morro Hoje”, segundo eles) pichada em suas casas — o que impera por lá agora é o terror psicológico.
Foto: Fernando Souza / Agência O Dia
Dona Chiquinha é responsável há 40 anos pela Capela das Almas | Foto: Fernando Souza / Agência O Dia
“Fazem reuniões com a gente, mas só falam de teleférico. Ninguém explica o que acontecerá conosco e o que significa essa pichação nas nossas portas. Daqui eu não saio”, avisa Dona Chiquinha, de 70 anos, e há 40 responsável pela preservação da histórica Capela das Almas, erguida por escravos no alto do morro em 1902.
Juliana Almeida faz coro com Dona Chiquinha e acusa o prefeito Eduardo Paes de ter sido grosseiro antes daeleição ao discursar dentro da comunidade vizinha à Central do Brasil.
“Ele nos chamou de porcos porque havia lixo no chão. Lixo que os garis daprefeitura não limpam. Quase que eu chamei ele para entrar na minha casa”, criticou.
A indefinição e a falta de transparência são o que mais afligem os moradores da primeira favela do Brasil, criada em 1897 por soldados que lutaram na Guerra de Canudos e não receberam as terras prometidas pelo governo.  “Só falta tirar a gente do Centro para nos jogar em área de milícia”, reclama Janaína dos Santos.
Especulação
A revitalização dos bairros da zona portuária já começou a mudar não apenas a cara da região como o mercado imobiliário por lá. Somente nos dois primeiros meses deste ano, os valores dos imóveis comerciais cresceram 20% em média, o dobro do registrado no restante da cidade. 
Eduardo Pompéia, engenheiro da Bolsa de Imóveis do Rio, que analisa o mercado imobiliário, explica que o projeto Porto Maravilha é antigo, mas os investimentos só vieram, de fato, recentemente. “É isso que dá confiança aos fundos de investimento”, explica.
SMH garante ter informado os moradores
O secretário municipal de Habitação, Pierre Batista, rechaçou as críticas dos moradores do Morro da Providência e garantiu que todos estão devidamente informados sobre as remoções na comunidade.
De acordo com o secretário, 671 famílias serão removidas para áreas próximas à comunidade, como a Rua do Livramento.
Destas famílias, 60% terão de sair por conta das obras de revitalização da região e 40%, por estarem em área de risco. E deste total, 300 famílias já teriam entrado em acordo com a prefeitura.
“Eu sei que não moro em área de risco, pois é entre a capela e a caixa d’água da elevatória da Cedae. Então, não há risco, ou seja, vão me tirar daqui, da capela que eu cuido, da vista que eu tenho, para reformarem ao gosto do turista. O respeito aos moradores fica onde?”, reclamou Dona Chiquinha, moradora do Morro da Providência há 45 anos. 

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Janaína com o irmão Miguel à esquerda, critica ação da prefeitura. Juliana se reúne com o filho e sobrinhas na praça no alto do morro. À direita, teleférico em construção | Foto: Fernando Souza / Agência O Dia