São Paulo -  O assassinato da advogada Mércia Nikie Nakashima, que tinha 28 anos em maio de 2010, causa até hoje comoção e “histeria” em alguns moradores de Guarulhos, onde viviam e trabalhavam a vítima e o acusado, o também advogado Mizael Bispo de Souza (42 anos), suspeito de cometer o crime por não aceitar o fim do namoro entre os dois.
Mizael poderá ficar em sala especial enquanto responde por homicídio | Foto: Reprodução Internet
Mizael poderá ficar em sala especial enquanto responde por homicídio | Foto: Reprodução Internet
A ansiedade pelo julgamento – que começa nesta segunda-feira – não diminuiu nem com o anúncio de que os prováveis cinco dias de júri serão transmitidos pela TV: diariamente moradores da região vão ao fórum dacidade pedir senhas para garantir lugar no disputado auditório, que deve receber principalmente advogados, estudantes e familiares dos envolvidos no caso.
Os funcionários do fórum recebem até candidatos para o júri popular, uma escolha que cabe exclusivamente ao juiz, que pode pedir a autoridades locais ou associações de classe a indicação de cidadãos que sejam absolutamente isentos no caso.
A fixação pela história também trouxe dor de cabeça à polícia de Guarulhos, que precisou investigar dezenas de denúncias anônimas. O inquérito policial cita a ligação de homem que dizia ter visto o casal juntos depois do dia 23, data do crime. Houve até quem assumisse a autoria do assassinato.
Mas a denúncia que mais chamou a atenção dava outra versão para o crime: interessado em extorquir a família de Mércia, Mizael teria contratado dois capangas para sequestrar a advogada e mantê-la presa nos fundos de uma residência na cidade de Nazaré Paulista, cidade onde o assassinato de fato ocorreu.
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Foto: Reprodução Internet
A polícia encontrou o lugar, os suspeitos apontados pelo denunciante, mas desistiu dessa linha de investigação depois do testemunho de um pescador, que apontou o real local do crime: a represa em que o corpo e o carro de Mércia foram encontrados.
O delegado responsável pelo inquérito, Antônio de Olim, descreve no processo “uma série de denúncias anônimas”, como a de um certo Henrique, que ligava para a família da vítima “passando informações falsas, solicitando resgate para a devolução de Mércia”. Só no dia do funeral, ele ligou cem vezes para membros da família Nakashima.
“Tais versões são fruto de fixação por parte desses indivíduos com o caso”, diz Olim, que atribui “o clima de histeria na sociedade” à divulgação do caso pela mídia.
Transmissão
O promotor que vai tentar condenar Mizael, Rodrigo Merli Antunes, lembra que a organização do julgamento tomou as providências para evitar que o clamor popular influencie o júri. “O quarteirão está isolado. Lá dentro ninguém vai ouvir manifestação, e quem o fizer no auditório será posto para fora.”
Ele acredita que, além de evitar que os cidadãos se “digladiem por senha”, a transmissão pela TV “vai mostrar à população como funciona o júri, permitindo sugestões e críticas para a instituição”.
“Hoje no Brasil se conhece mais como funciona o júri norte-americano do que o brasileiro. Da minha parte, eu vou esquecer que estou diante das câmeras.”
As informações são do repórter Wanderley Preite Sobrinho, do iG