Rio -  Uma "batalha" travada há mais de um ano, que envolve a retirada de famílias da comunidade Indiana, na Tijuca, está tirando o sono dos moradores. Segundo eles, a especulação imobiliária seria o principal objetivo da remoção de todos da região.
Uma comissão de moradores foi criada para exigir da prefeitura o cumprimento de um acordo firmado com o ex-secretário de Habitação, Jorge Bittar, e com o atual, Pierre Batista, ambos do PT.
A proposta é transferir apenas as famílias que vivem em área de risco para o Bairro Carioca, que está sendo construído em Triagem com recursos do Programa Minha Casa, Minha Vida, do governo federal.
“O que foi prometido é que os moradores cujas casas ficam no meio da comunidade, longe do Rio Maracanã, que não quiserem ir para Triagem, terão direito a urbanização e melhorias na própria região. E os que quisessem ir teriam suas casas entregues aos que moram em áreas de risco e preferem ficar na Tijuca”, explica o vereador Reimont, também do PT, que comprou a briga dos moradores.
Foto: Uanderson Fernandes / Agência O Dia
Moradores da comunidade Indiana, na Tijuca, mostram que moram entre uma escola e uma padaria, sem indícios de que haja risco para famílias | Foto: Uanderson Fernandes / Agência O Dia
O problema, de acordo com os moradores, é que em vez de a prefeitura assentar a população das áreas de risco nos locais seguros dentro da própria comunidade, segundo o acordo feito, as casas das famílias que optaram pela transferência para Triagem começaram a ser demolidas, o que só parou de acontecer graças à intervenção do Ministério Público.
Confusão
Isso é terrível, pois tudo ficou parado e acaba parecendo que nós, que queremos ficar, estamos impedindo a transferência para Triagem dos que moradores que querem ir e dos que, de fato, precisam ir. E não é isso. Nós temos direito e interesse em ficar e só queremos ser respeitados”, explica Maria do Socorro Oliveira, representante da comissão dos moradores criada para discutir o tema.

Prefeitura
A assessoria de imprensa da Secretaria Municipal de Habitação (SMH), através de um e-mail, confirmou o acordo com os moradores para reassentar apenas as famílias que moram às margens do Rio Maracanã, mas não informou o que fará com o restante da comunidade tijucana.
Ainda segundo a secretaria, 233 famílias que vivem em área de risco na região foram cadastradas. No total, 81 famílias já receberam imóveis no Bairro Carioca e 51 têm processos em fase de análise na Caixa Econômica Federal.
Vendedora diz que não é uma área de risco
Moradora da Indiana desde que nasceu, há 31 anos, a vendedora Ana Cristina Santos não acredita nas explicações dadas pelos operários para justificar as remoções. Vizinha de porta do Ciep Antoine Margarinos, ela relembra o que aconteceu há poucos anos com uma comunidade próxima conhecida como Lapidário.
"Moro entre uma padaria e um Brizolão onde estudam 400 crianças. Vão demolir o Brizolão também? Quem é que disse que é área de risco? No Lapidário foi a mesma coisa. Tiraram os moradores para construir prédio para bacana. Se é para ajudar a comunidade, que construam um prédio para os moradores, não para bacanas", protestou Ana.