Rio -  O nome de batismo nem todo mundo conhece: Alexandre Magno Abrão. Mas o apelido que virou nome artístico é mais que conhecido, até por quem não curte as músicas do Charlie Brown Jr., grupo que o catapultou ao estrelato nos anos 90. Chorão foi encontrado morto na madrugada de ontem em seu apartamento, na Rua Morás, em Pinheiros, Zona Oeste de São Paulo (ele morava em Santos, mas ficava nesse endereço quando estava na capital). Na internet, a citação #LutoChorão ocupou o primeiro lugar entre os assuntos mais comentados do Twitter. É a vez dos admiradores derramarem lágrimas saudosas. “Ele era um grande amigo e de longa data. Muito triste com essa notícia”, lamentou seu contemporâneo Marcelo D2.
Cantor morre em São Paulo | Foto: Divulgação
Cantor morre em São Paulo | Foto: Divulgação
Fãs renderam homenagens tão logo souberam da notícia. Flores foram deixadas no Chorão Skate Park, pista de skate do cantor em Santos, e outros tantos fizeram fila para dar o último adeus ao ídolo no velório, em um ginásio na mesma cidade. O próximo show do Charlie Brown Jr. seria no dia 22, no clube Luso Brasileiro, em Campo Grande, na Zona Oeste do Rio. “Tenho a sorte de ser agraciado e respeitado pela cariocada. Sempre que toco no Rio é incrível”, disse Chorão em sua última entrevista a O DIA.
A equipe do Charlie Brown Jr. tentava localizar Chorão desde o meio-dia de terça-feira, até que o segurança e o motorista do cantor entraram no apartamento com uma cópia da chave e encontraram o corpo às 4h30 da manhã de ontem.
Pó branco foi encontrado ao lado de cheque enrolado em forma de canudo | Foto: Divulgação
Pó branco foi encontrado ao lado de cheque enrolado em forma de canudo | Foto: Divulgação
A causa da morte está sendo investigada, mas em seu apartamento havia manchas de sangue. No entanto, o delegado Itagiba Franco, do DHPP (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa), descartou a hipótese de homicídio, já que não havia sinais de agressão em seu corpo e ele estava com um dedo machucado. O sangue, provavelmente, era desse ferimento. Também foi achado no local, que foi encontrado todo revirado, “uma pequena quantidade de substância branca, aparentando ser cocaína, latas de cerveja, energético e garrafas de vinho”, de acordo com o boletim de ocorrência registrado na 14ª DP, de Pinheiros.
Chorão passava por um momento pessoal difícil, com problemas familiares e vivia o drama de uma separação recente. “Eu gosto muito dela, mas não tem jeito, chegou ao fim”, declarou ele recentemente, no ‘Caldeirão do Huck’.
Foto: Divulgação
Cantor foi encontrado morto em seu apartamento | Foto: Divulgação
A apresentadora Sônia Abrão, prima do artista, disse que ele vinha reclamando muito de solidão. Chorão faria 43 anos no dia 9 de abril e deixa um filho de 22. “Ele também se chama Alexandre. Já está maior que eu, com mais de 1,90m. Tem banda, toca baixo, guitarra, e está cursando Cinema. Ele não nasceu para ser playboy, não. Pretendo que logo possa trabalhar comigo, dirigindo os clipes do Charlie Brown. Considero o moleque um puta filho legal”, derreteu-se Chorão, orgulhoso, em uma entrevista ao jornal O DIA.
O corpo do vocalista será enterrado hoje, às 15h, no cemitério Memorial Necrópole, em Santos.
Rock com skate e palavrões
Amado por uns, odiado por outros, o fato é que o Charlie Brown Jr. entrou para a história do rock brasileiro no embalo de sucessos como ‘O Coro Vai Comê’ ou ‘Proibida Pra Mim’, fazendo a cabeça de uma garotada que se identificou, principalmente, com o estilo skatista-desbocado de seu vocalista e letrista.
A banda foi formada em Santos, em 1992, e deixou nove discos de estúdio, dois ao vivo e seis DVDs, além de ter faturado dois prêmios Grammy latino. O último lançamento, ‘Música Popular Caiçara’, de 2012, traz registros de apresentações em Santos e Curitiba e marcou a volta dos integrantes Marcão e Champignon, que haviam deixado o grupo em 2005 por desentendimentos, completando a formação com o guitarrista Thiago Castanho e o baterista Bruno Graveto. Chorão foi o único que nunca deixou a banda.
Foto: Reprodução Internet
Músicos fazem as pazes | Foto: Reprodução Internet
As atividades do vocalista não se limitaram à música. Apaixonado por skate, montou sua própria pista e chegou a ser vice-campeão paulista do esporte. Em 2007, escreveu o roteiro do filme ‘O Magnata’ e já tinha outro pronto, chamado ‘O Cobrador’, que não chegou a ser lançado. Chorão declarou que pretendia lançar um livro sobre a história de sua banda. Em 2009, criou sua própria grife de roupas, a DO.CE.
Polêmica até na morte
Chorão fez fama tanto por suas músicas quanto pelas polêmicas nas quais se envolveu. Até a liberação de seu corpo no Instituto Médico Legal foi marcada por uma briga, envolvendo Ricardo, seu irmão, e sua ex-mulher, a estilista Graziela Gonçalves, que trocaram xingamentos e empurrões.
Entre as confusões que protagonizou, a mais recente foi a bronca que deu em Champignon, baixista do Charlie Brown Jr., no final do ano passado em pleno palco durante um show em Apucarana, no Paraná. Ontem, Champignon declarou, depois de saber da morte do colega de banda, que “a gente brigou algumas vezes, mas felizmente a gente pôde refazer a nossa amizade”.
Também ganhou bastante espaço na mídia o soco que Chorão deu no músico Marcelo Camelo, em 2004, que quebrou o nariz do integrante do grupo Los Hermanos. O motivo da briga foi uma crítica de Camelo por Chorão ter sido garoto-propaganda da Coca-Cola.
“Foi uma confusão besta, não me orgulho e nunca mais protagonizei algo parecido. O Camelo também deve ter aprendido algo com isso. Gostaria de um dia perguntar a ele”, declarou Chorão a O DIA, completando que sua próxima polêmica, provavelmente, seria mais divertida. Ele planejava um disco solo misturando o rock com o samba. “Meu ouvido não estava pronto para o samba. Até que gravei com o Zeca Pagodinho e aprendi a dar valor. Ele é o cara mais rock ‘n’ roll que conheci”, elogiou o roqueiro.
Chorão se vai, mas fica sua música, de versos emblemáticos como os da canção ‘Não É Sério’: “Eu também senti a dor/E disso tudo eu fiz a rima/Agora tô por conta/Pode crer que eu tô no clima”.