São Paulo -  Depois de perder os advogados por mudar três vezes a versão sobre sua participação na morte da advogada Mércia Nakashima, em maio de 2010, o vigia Evandro Bezerra Silva constituiu novos defensores, que assumiram o caso com uma nova acusação: “A família do Mizael ofereceu R$ 6 mil para ele mudar novamente de versão”.
Foto: Reprodução
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A declaração é do criminalista Harildo de Oliveria, que, ao lado de Marcio Gomes Modesto, vai defender Evandro da acusação de ajudar o ex-namorado de Mércia, o policial aposentado e advogado Mizael Bispo de Souza, a fugir das imediações em que ele teria matado a advogada. “Evandro recebeu na cadeia uma carta oferecendo R$ 6 mil, além de R$ 250 por mês, para dizer que ele não deu carona para Mizael.”
“Esse advogado que prove e mostre essa carta”, disparou o defensor de Mizael, Samir Haddad Junior. “O que ele está querendo é aparecer na mídia.” Oliveira afirmou que a carta está em poder de Evandro: “Vou ter acesso a essa carta escrita e vou juntar ao processo”.
A versão que a dupla de advogados vai defender no julgamento do vigia – marcado para o dia 29 de julho deste ano – é que Evandro, funcionário informal de Mizael, recebeu um telefonema do chefe pedindo que o buscasse em uma festa, próxima à represa da cidade de Nazaré Paulista, onde o carro e o corpo de Mércia foram encontrados.
Foi por causa dessa terceira versão que os antigos defensores de Evandro o abandonaram. Em seu primeiro depoimento à polícia, o vigia negou que tivesse dado carona a Mizael. Depois, confessou que sabia do crime quando se aproximou da represa para resgatar o policial aposentado que, em suas palavras, segurava uma arma.
“Ele confessou sob tortura policial”, afirmou o novo advogado sobre essa versão, dada por Evandro em Aracaju (SE), quando ele se entregou depois de alguns dias considerado foragido. “Ele não havia fugido, estava visitando a família, como fazia todos os anos”, defende Oliveira.
O defensor conta que os policiais “colocaram uma fita adesiva em sua boca, cobriram a cabeça dele com uma sacola e pediram que ele batesse o pé no chão quando estivesse pronto para confessar”. Depois de tentar “contar a verdade por quatro vezes”, ele desmaiou. “Jogaram água no rosto e perguntaram se ele estava pronto para confirmar a versão policial”, relata o advogado.
Suspeito
As investigações não demoraram para apontar Evandro como o principal suspeito de ajudar na fuga de Mizael. O vigia trabalhava havia alguns meses para o advogado, como segurança em feiras informais em Guarulhos, na Grande São Paulo.
À polícia, testemunhas afirmam que, dias antes do crime, os dois vinham se encontrando com frequencia no posto de gasolina onde Evandro trabalhava. Uma delas disse que o vigia lhe confessara a oferta de R$ 5 mil para que “fizesse uma coisa errada” para Mizael.
No processo, de 14 volumes, há também a versão do irmão de Mércia, Márcio Massami Nakashima, que diz ter recebido uma ligação pedindo R$ 10 mil em troca de um vídeo com as imagens do assassinato e as luvas que Mizael teria usado no dia do crime. Segundo uma testemunha sigilosa que ouviu a gravação telefônica, a voz pertencia a Evandro, que sempre negou o diálogo.
O vigia também é lembrado por pescar frequentemente na represa de Nazaré Paulista, cidade em que um irmão tem um sítio. Apesar dessas suspeitas, Oliveira diz que vai “demonstrar para os jurados que a versão de Evandro está em total consonância com o processo”. “A acusação está totalmente errada por tentar incluí-lo no crime”, conclui.
As informações são do repórter Wanderley Preite Sobrinho, do iG