Rio -  Herói maior do clássico ‘Odisseia’, de Homero, Ulisses foi imortalizado na mitologia grega por sua capacidade de superar limites e adversidades. Com o mesmo nome emblemático, mas trajetória de anti-herói, o simples mortal Ulisses Alves da Silveira clama por uma segunda chance no futebol.Foto: Divulgação
Jogador teve problemas com drogas | Foto: Divulgação
Após brilhar na base do Fluminense ao lado de Arouca, Toró, Radamés e Fernando, a joia rara de Xerém se deixou seduzir pelo canto da sereia que margeia o submundo da bola: um coquetel explosivo de cocaína, bebidas, mulheres e até armas, que interrompeu há quatro anos anos a sua carreira.

Doze dias antes de ser contratado pelo Vasco para jogar a Série B do Brasileiro, o jogador brigou com um vizinho e apertou o gatilho de um revólver por duas vezes, alegando legítima defesa. Um dos tiros acertou a mão do rival.

Enquadrado no artigo 121, combinado ao 14 do Código Penal, foi indiciado por tentativa de homicídio. Se condenado, poderá pegar de 2 a 12 anos de prisão no julgamento que deverá ocorrer ainda este ano. Arrependido de tantos passos em falso, Ulisses se diz um novo homem.


ESTOQUISTA DE LOJA

Hoje, ganha a vida como estoquista em uma loja de peças, em Campo Grande, e tenta ser no dia a dia um bom pai para Kauã e Caio. Nos fins de semana, mata a saudade da bola jogando no time do Agapito, no campinho de terra batida, no Rocha, em São Gonçalo. Triste realidade para quem um dia deixou na reserva o lateral Marcelo, do Real Madrid e titular da Seleção.

“Dá até vontade de chorar... e ele não manda nem uma merrequinha para mim. Dá um bicho aí (risos)...”, pede, em tom de brincadeira, para depois voltar a falar sério. “O meu reserva não era um qualquer, era o Marcelo, excelente jogador. Isso me dá mais autoestima e vontade de voltar a jogar futebol”.

Mas, para reconquistar o que perdeu, Ulisses terá primeiro que driblar a forte desconfiança em relação às drogas: “Quando você sobe (profissional), é a joia, todo mundo quer ficar perto. Aí, se envolve com as pessoas, vem a bebida, mulheres, noitadas e o futebol fica de lado. Em relação às drogas, graças a Deus, vai fazer dois anos que não uso”. A força maior para se manter nos trilhos vem dos filhos, a quem sempre mostra com ar saudosista as fotos dos tempos de Tricolor.

“Eles se amarram e dizem orgulhosos: ‘Papai jogava no Fluminense e eu também vou jogar’. E me perguntam porque não jogo mais. Isso mexe comigo. Por causa disso, quero ser o melhor exemplo para que eles não repitam meus erros no futuro”, afirma.

DESCULPAS AO VIZINHO

Foi justamente uma reflexão sobre o passado que motivou sua transformação pessoal: “Vejo meus amigos jogando e penso que não estou ali só por causa de mim mesmo.Por isso, botei um ponto final nessa história”.

Se as drogas já fazem parte do passado, o acerto de contas com a Justiça é uma dura realidade. “Sei da gravidade dos meu erros. Gostaria de pedir desculpas a ele... me arrependo. O julgamento ainda não foi marcado, o advogado está olhando. É uma parte da minha vida que quero deletar para seguir em frente”.

Mesmo sabendo que não será fácil retomar a carreira, Ulisses pede outra chance aos deuses do Olimpo do futebol: “Peço as pessoas que sabem do meu potencial que me deem uma chance de voltar a fazer o que mais