Rio -  ‘Toda vez que eu chego em casa, a barata da vizinha está na minha cama”. Impossível não lembrar dos versos de duplo sentido da música ‘A Barata’, que marcaram o pagode nos anos 90. Quando a canção estourou nas rádios de todo o Brasil, em 1993, o grupo Só Pra Contrariar não imaginava que continuaria cantando o sucesso duas décadas depois. A partir deste mês, a banda retoma sua formação quase original (com um integrante a menos) para uma turnê de dois anos que vai percorrer o país inteiro e comemorar os 25 anos de estrada do SPC. Alexandre Pires, que deixou o grupo em 2002 para seguir carreira solo, está de volta ao vocal.
Alexandre Pires está de volta | Foto: Divulgação
Alexandre Pires está de volta | Foto: Divulgação
“A ideia surgiu em abril do ano passado, quando gravei o DVD ‘Eletrosamba’ e chamei o SPC para uma participação. Foi muito emocionante o reencontro. Depois do Carnaval deste ano, voltamos a falar do projeto com todos os integrantes da primeira formação e de fazer essa turnê comemorativa”, explica o cantor, que tem se reunido diariamente como os músicos Fernando, Serginho, Hamilton, Luisinho, Popó, Luiz Fernando e Juliano nos ensaios que acontecem em Uberlândia, cidade onde o grupo foi criado.
Ficar longe desses amigos “quase irmãos” durante 11 anos não foi tão simples assim. Alexandre Pires contrariou a lógica de que muitos vocalistas deixam seus grupos para ganhar mais dinheiro com a carreira solo. “Se isso for uma regra, eu sou a exceção. No meu caso, foi o contrário. Quando saí do SPC, gastei quase todo meu dinheiro. Tive que fazer um investimento alto na carreira internacional. Deixei de fazer muitos shows no Brasil e faturar com isso para plantar uma semente da qual, só depois de muito tempo, eu fui colher os frutos. O grupo tinha um público fiel e eu, sozinho, não. Fui construindo tijolinho por tijolinho até enxergarem meu trabalho”.
Foto antiga do grupo | Foto: Divulgação
Foto antiga do grupo | Foto: Divulgação
Ele deixou para trás a banda mineira com mais de dez álbuns lançados, quase dez milhões de cópias vendidas e milhares de fãs para conquistar parte da Europa e da América Latina. “Foi um recomeço necessário”, garante Alexandre.
O reencontro oficial do SPC será no dia 20 deste mês em Recife, com o primeiro show da turnê, que já está com a agenda toda fechada. Os fãs do Rio terão que esperar um pouco mais: o Só Pra Contrariar sobe no palco carioca somente no dia 8 de junho. “O público do grupo sempre foi muito grande e, desde o anúncio do retorno, recebemos muitas manifestações de carinho. Os shows terão preços bem acessíveis. Essa é a nossa maior preocupação: atender a todas as classes sociais. Existem pessoas que nem gostam de pagode, mas nos admiram”, diz Alexandre.
Quem pensa que o cachê da banda aumentou por conta da volta do cantor, se engana. “As pessoas que colocam os preços no nosso trabalho. O cachê não foi valorizado porque eu voltei. A maioria desses show será feita em parceria com promotores. Se der lucro, ganha todo mundo. Se der prejuízo, perde todo mundo também”, diz.
Prazo de validade
Considerada por Alexandre uma turnê de “começo, meio e fim”, ela só vai durar até o verão de 2015. “Não existe chance de prorrogá-la. A gente se reuniu com o intuito de comemorar esses 25 anos, que se completam no ano que vem. Agora a minha prioridade é o SPC. Daqui a dois anos, volto com minhas apresentações solo”, adianta.
A maior dificuldade do grupo, no entanto, é escolher um repertório para encaixar nas duas horas de show. Só de hits são mais de 35 músicas. “Essa quantidade dá para quase dois espetáculos. Queremos em média 30 músicas por show e é uma tarefa complicada selecionar umas e excluir outras. Mas uma hora temos que aceitar que precisamos cortar algumas. Nossos fãs estão nos ajudando a escolher e os amigos das rádios também”.
‘Depois do Prazer’, ‘Essa Tal Liberdade’, ‘Mineirinho’ e ‘Sai da minha Aba’ são quatro canções que já estão definidas no setlist. “Essas não ficarão de fora de jeito nenhum. São os principais sucessos que o grupo teve. Também vamos manter todos os arranjos originais, do jeito que a gente gravou, há anos. Quando se muda o arranjo, muita gente demora a identificar. E, para marcar esse momento tão especial, vamos gravar um DVD dessa turnê, incluindo umas cinco canções inéditas que estamos preparando”, reforça o mineirinho, que já não tem mais os cabelos cacheados e o bigodinho — estilo cafajeste — do início de sua carreira. “Todos nós mudamos muito, para melhor”, diverte-se.