Rio -  Com o recente ‘estupro da van’, no Rio, lembrei-me que, na Índia, há pouco tempo, dois ônibus foram desviados também para um local deserto, onde homens cometeram os mesmos atos hediondos, nascidos do medo de ser homem, da covardia, perdendo-se na revolta, que mancha a pureza da carne, criada para gerar.
Tanto aqui como lá, o terror do machismo acaba por ter guarida no silêncio e cumplicidade de sociedades que, por fragilidade e medo, se congelam diante da escuridão humana. Uma doença, um cinismo dos quais a vítima não é uma mulher somente, e, sim, todos nós, independentemente de gênero.
Ficamos horrorizados, mas inertes, embora esse terror nos toque lá dentro, num local desconhecido de nosso ser, abalando-nos de uma forma velada. A violência brutal nos faz parar para pensar no que isso realmente representa — quem são os verdadeiros vilões, quem são realmente todas as vítimas?
Como pode alguém ser feliz, homem ou mulher, agindo dessa forma grotesca, até selvagem, provavelmente se violentando também? E o que devemos fazer, além do desejo insano e legítimo de apedrejar todos eles em praça pública? Protestar ? Contra o quê?
No Brasil há leis, talvez brandas, podendo até ser mudadas, tornando-se mais duras. Mas a mulher já foi estuprada, nós todas fomos, homem e mulher vivem o conflito de um duelo sem regras. Pior: sem vencedores.
A Índia é um país de cultura muito repressora, típica de uma sociedade atrasada, vivendo nas trevas de muitos preconceitos, nas mazelas de uma pobreza atroz.
Numa autoavaliação honesta, porém, devemos admitir que não somos diferentes; por aqui apenas a forma de violência, entre homens e mulheres é diversa, talvez mais ‘moderna’. Todos os dias, no Brasil milhares de mulheres também são mortas, espancadas, violadas, ameaçadas, humilhadas...
Um flagelo, quando do outro lado estão homens desolados, perdidos, num país que ainda sofre com a falta de uma assistência moral e social de verdade.
Advogada