Rio -  A atriz Cissa Guimarães chorou, sorriu, dançou e vibrou, na madrugada desta quinta-feira, durante o evento de música, grafite e skate que marcou a reinauguração do Túnel Acústico, na Gávea, Zona Sul do Rio, que passa a ter o nome do filho dela, Rafael Mascarenhas. O estudante e guitarrista, então com 18 anos, morreu no dia 20 de julho de 2010, após ser atropelado por um motorista quando andava de skate com amigos na via, que estava com um trecho interditado para manutenção. O decreto de nomeação foi assinado em janeiro deste ano pelo prefeito do Rio, Eduardo Paes.
"Vai ser um sinal de amor e respeirto. O Rafa deixou isso de lição pra gente: amor e respeito aos outros. O que aconteceu aqui em 2010 foi uma falta de amor e respeito ao próximo. os túneis são conhecidos pela escuridão. As pessoas quando passarem por aqui agora e olhar o sorriso do meu filho e pensar no amor e no respeito ao pr´ximo para que esse tipo de acidente não conteça mais", disse emocionada a atriz.
Além de Cissa Guimarães, os irmãos de Rafael, João e Thomaz Velho, e Camilla Belém chegaram ao Túnel Acústico no início da madrugada. Eles, como outras cerca de 200 pessoas que participaram da comemoração, usavam camisas brancas com o desenho do filho da atriz. A pista sentido São Conrado foi fechada ao trãnsito. Amigos, personalidades, colegas de colégio, skatistas e grafiteiros foram embalados por uma banda formada por amigos de Rafael que executaram, rock e blues. João chegou a assumir os vocais.
"Os parentes e amigos nunca ficaram revoltados. A gente só faz arte. Preferimos a arte, a cultura e não a revolta. O nome dado ao túnel é importante para a memória do que aconteceu aqui", disse Cissa Guimarães
Além da placa com o nome de Rafael na entrada do túnel, apresentada por João e Cissa, a parede da pista sentido São Contado ganhou uma foto e um grafite com o rosto do estudante. Vasos de flores foram colocadas no local. Grafiteiros também deixaram seus desenhos gravados no muro.
"Sou amigo do Thomaz há mais de 20 anos. Quando o Rafael era moleque pediu que eu grafitasse um personagem meu, o Shimu, que ele gostava muito, na parede do quarto dele. É um personagem que é a expressão de alegria, como era o Rafael", relembrou o grafiteiro Toz, de 37 anos.
No fim, Cissa Guiamrães agradeceu aos presentes, entoou um Salve Rafa! e anunciou o fim do evento. O Túnel Acústico Rafael Mascarenhas ficou fechado por cerca de três horas. Ele tem 465 metros de extensão, faz parte da Auto Estrada Lagoa-Barra e liga a Avenida Padre Leonel Franca, na Gávea, ao Túnel Zuzu Angel.
Para João Velho, a homenagem ao irmão está em segundo plano e é um marco, acima de tudo, para a sociedade carioca contra a violência. "O que aconteceu com o Rafa poderia ter acontecido com qualquer um de nós. Ele praticava algo que dazia a tempos: andar de skate com o túnel fechado. Hoje é mais do que uma homenagem, é a parabenização da cidade, um símbolo. Estamos aqui representando todos nós da sociedade carioca", afirmou.
João Velho comparou o batismo do Túnel Acústico com o nome do irmão ao do Túnel Zuzu Angel, que também integra o sistema viário da Auto Estrada Lagoa-Barra. A homenagem foi feita a estilista, que morreu em um acidente de carro no dia 14 de abril de 1976, na saída da via. Anos depois, investigações provaram que ela teve o Karmann Guia que dirigia fechado por outro veículo. O atentado é atribuído a militares das Forças Armadas que comandavam o país. A estilista lutava para encontrar o corpo do filho Stuart Angel Jones, militante de esquerda desaparecido em 1971.
Relembre o caso
Rafael Mascarenhas, filho de Cissa Guimarães e do saxofonista Raul Mascarenhas, andava de skate no Túnel Acústico, que estava interditado para veículos, quando foi atropelado por um carro. Ele chegou a ser levado ao Hospital Municipal Miguel Couto, há poucos metros do local, mas não resistiu aos ferimentos e morreu.
Na ocasião, uma testemunha contou à polícia que dois carros trafegavam em alta velocidade pelo túnel antes do acidente. Em depoimento, o atropelador Rafael Bussamra disse que não sabia da interdição no tráfego na hora do acidente. Ele fugiu do local sem prestar socorro à vítima. O acusado e um amigo estariam fazendo um 'pega', segundo as investigações. Ele e o amigo Gabriel Fernandes - que dirigia o outro carro - foram indiciados pela polícia por homicídio doloso, quando há intenção de matar. Eles aguardam o julgamento em liberdade.
A perícia feita pelo Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE) da Polícia Civil no carro de Bussamra apontou que o veículo estava a uma velocidade de aproximadamente 100 km/h no momento do acidente. De acordo com a Companhia de Engenharia de Tráfego do Rio (CET-Rio), a velocidade máxima permitida no Túnel Acústico é de 70 km/h.
O pai de Rafael Bussamra, Roberto Bussamra, disse em depoimento, que pagou R$ 1 mil para dois policiais do 23º BPM (Leblon), que teriam pedido inicialmente R$10 mil, para que os militares não apreendessem o veículo do filho. Os dois foram expulsos da PM.