Rio -  Irmão do urbanista Vicente Loureiro, Victor Loureiro assumiu há duas semanas o posto de subsecretário do Observatório Municipal de Nova Iguaçu, recém-criado pelo prefeito Nelson Bornier. Professor de Biologia, pós-graduado em Educação Ambiental e escritor, terá como missão planejar o futuro da cidade.
Foto: Divulgação
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ODIA: O Observatório Municipal acaba de ser criado pelo prefeito Nelson Bornier e não é comum termos esse tipo de órgão nas cidades brasileiras, especialmente no Rio de Janeiro. O que é o Observatório Municipal?
VICTOR LOUREIRO: Primeiro, é preciso desmistificar a ideia que algumas pessoas têm de um observatório astronômico, de ficar olhando as estrelas. Nosso observatório tem por objetivo olhar a cidade, saber sobre ela, colher a maior quantidade de dados possíveis registrados dentro do poder público e transformar estes números frios em várias ações que possam ter uma contribuição pedagógica na educação do cidadão, para que o iguaçuano conheça sua cidade e possa nos ajudar a projetar o futuro.
Por falar em educação, de que forma o Observatório vai trabalhar junto aos estudantes para que eles conheçam melhor a cidade onde vivem?
Um dos princípios nossos é trabalhar com a criançada, com as próximas gerações. Por mais que a gente trabalhe com quem já tem dado sua contribuição, temos que pensar nas futuras gerações. Isso é fundamental para a cidade.
As crianças aprendem na escola a história do Brasil, do mundo, mas não conhecem a história da Baixada. É possível ensiná-las sobre a região de forma que elas tenham interesse em conhecer o passado?
Vi em Paraty um museu temático muito interessante com maquetes de locais históricos da Estrada Real, que levada o ouro de Diamantina, em Minas Gerais, até Paraty. Um dos objetivos é fazer isso na Baixada, reconstruindo, através de maquetes ou miniaturas, construções históricas da região. É um projeto perfeitamente possível e que não sai da minha cabeça.
Como é possível traçar o futuro de uma cidade observando seu passado?
Uma experiência interessante, que já existe em vários lugares do mundo e também no Rio de Janeiro, é colocar várias imagens do passado de um lugar, do presente deste mesmo lugar e de como fatalmente ele será no futuro. Trabalhar com projeção é interessante, pois as pessoas entendem o que podem produzir. Podemos projetar o futuro e entender para onde a cidade vai, no trânsito, por exemplo.
Por falar em trânsito, de que forma o Observatório pode ajudar a tentar acabar com os engarragamentos de Nova Iguaçu?
Há 20 anos, a Via Light não existia e hoje precisamos projetar novas possibilidades para solucionar o caos no trânsito da cidade. Se as pessoas se conscientizarem do passado e do presente e que o aquele passado foi importante para o presente, fatalmente vão entender que hoje a ação dela produz e determina o futuro.
O observatório pode apontar para as possíveis saídas e o que não deve ser feito para que a gente não o complique ainda mais. Se ele é muito ou pouco caótico, depende de várias iniciativas não só do poder público, mas da sociedade. Temos que trazê-la para que ela entenda sua importância na evolução da cidade.
O senhor diz que quer a participação da sociedade nesse trabalho de observar e apontar os problemas da cidade. O Observatório seria uma espécie de Ouvidoria da prefeitura?
Não, pois ela já existe. Temos que pegar essas informações levadas à Ouvidoria e transformá-las em ações que possam chegar à população de maneira que ela entenda e possa refletir sobre problemas como o trânsito, qualidade de vida, poluição, tanto a sonora como a ambiental.
Acho que o Observatório pode contribuir para uma visão mais ampla e holística da população, que é leiga e não tem condições de pegar esses dados e entender de forma clara para que possa dar sua contribuição para o desenvolvimento da cidade.
De que maneira é possível fazer com que a população compreenda a história da cidade e se interesse em contribuir no desenvolvimento dela?
Temos que pegar a linguagem fria e burocrática do poder público e transformá-la em uma linguagem que tenha alcance direto para a população. Por exemplo: podemos fazer um mapa que aponte locais de importância, ícones culturais, de patrimônio tanto natural quanto cultural. Tudo isso pode ser localizado num grande mapa.
O Observatório será inspirado em algum modelo já existente no Brasil?
Existem órgãos como esse em cidades do interior de São Paulo. As experiências anteriores são importantes para errarmos menos e aprendermos com os acertos dessas cidades. Sou fã de Jaime Lerner, arquiteto que foi prefeito de Curitiba e escreveu o livro “Acupuntura Urbana”.
Ele diz que, se há uma obra positiva, mesmo que ao redor haja problemas, aquele ponto pode irradiar positividade para as redondezas, como na acupuntura. É o que pretendemos fazer em Nova Iguaçu.