Conheça os prós e os contras de ressuscitar espécies
Novas técnicas poderão em breve trazer animais extintos de volta à vida, mas essas tecnologias devem mesmo ser utilizadas?
São Paulo - Na semana passada, a possibilidade de trazer de volta à vida animais extintos foi tema de artigos em dois periódicos científicos: o prestigiado Science publicou dois textos, e o PLoS Biology , mais um. A questão técnica está superada: as tecnologias para realizar este feito estão basicamente disponíveis. O problema é muito mais como lidar com as questões éticas, sociais e legais de se entrar nesta seara.
Ilustração de um dodô, ave das ilhas Maurício extinta no século 17 | Foto: Reprodução Internet
Outra tecnologia é a transferência nuclear somática, a mesma técnica que deu origem à ovelha Dolly, o primeiro mamífero a ser clonado. Cientistas espanhóis utilizaram-na para tentar trazer de volta uma cabra montesa do pirineu ( Capra pyrenaica pyrenaica ). Conseguiram um parcial sucesso ao gerar um feto, mas este morreu minutos após o nascimento devido a anormalidades no pulmão -- e foi o único de uma centena que chegou a ser feto, os outros sequer avançaram até este estágio. No trabalho, os cientistas usaram tecido da pele da última exemplar da espécie, uma fêmea, que morreu em 2000 que estava criopreservado. Ou seja: é necessário ter o tecido do animal extinto bem preservado para poder fazer a clonagem.
Com o desenvolvimento dessas tecnologias – e elas avançam rápido -- é muito provável que os cientistas consigam em breve trazer um animal extinto de volta à vida.
O outro lado da moeda é o fato de que alguns dos animais atualmente extintos foram varridos da face da Terra pela ação humana. Seria então uma questão de justiça com estes animais trazê-los de volta à vida. Mas o quão justo é colocar um animal em um ambiente que não é o dele, sem outros de sua espécie em volta, em um habitat que não é mais o seu, e deixar que seus instintos cuidem de sua sobrevivência? E qual o limite ético dos cientistas, nesta tentativa de se sentirem todo-poderosos?
No entanto, não me parece que haja uma resposta pronta para a direção a seguir na questão de trazer ou não de volta à vida animais extintos.
O mais sensato me parece seguir o que foi feito com o uso da tecnologia do DNA Recombinante (popularmente chamada de transgenia) em 1974 após o químico americano Paul Berg ter publicado em 1972 um artigo científico mostrando que era possível misturar o DNA de dois seres diferentes: uma moratória voluntária em certos tipos de pesquisa na área, uma parada estratégica para se debater as questões ligadas ao seu uso.
Em 1975, ano seguinte ao apelo, foi realizada a Conferência de Asilomar, na Califórnia, Estados Unidos, um encontro que contou com mais de 140 pessoas, entre cientistas, médicos e advogados, para falar sobre o tema. Ao final dela, foram criadas diretrizes para a pesquisa em biotecnologia nas quais os cientistas se baseiam até hoje para fazer pesquisas na área.
Um detalhe interessante é que o pedido de moratória voluntária e o organizador da Conferência foram o próprio Berg – ninguém melhor do que um descobridor para entender os potenciais de uma tecnologia.
Está na hora de um novo Berg pedir uma nova Asilomar.
As informações são do colunista Alessandro Greco, do iG
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