Rio -  Na Paróquia de São Jorge, em Quintino, com velas vermelhas na mão e um chapéu estiloso na cabeça, o cozinheiro Adilson dos Santos, de 59 anos, pedia proteção e agradecia pelas bênçãos concedidas.

“Mandei fazer um terno com as cores de São Jorge. Agradeço a ele por tudo que consegui na minha vida”, contava o portelense, que uma vez por ano se rende ao vermelho e branco.
As homenagens ao Santo Guerreiro, o mais popular no Rio de Janeiro, começaram antes de o sol raiar e seguiram até a noite, reunindo centenas de milhares de devotos como Adilson em missas nas três igrejas dedicadas ao santo na cidade, além de procissões, queimas de fogos e das tradicionais cavalgadas, algumas delas organizadas em modernas versões sobre motocicletas.
Foto: Carlos Moraes / Agência O Dia
Fiéis lotam igreja em Quintino | Foto: Carlos Moraes / Agência O Dia
Mostrando serem guerreiros na batalha do dia a dia, muitos moradores e comerciantes de locais próximos aos eventos aproveitaram para vender santinhos, fitas, balões de gás em formato de cavalos e, é claro, imagens do santo.

O representante de vendas Carlos Reis, de 37 anos, montou uma barraca para vender comes e bebes bem em frente à Igreja de Quintino, aproveitando o movimento: “Vim aqui batalhar, complementar minha renda”.

Força de São Jorge atrai turistas no Rio

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Devotos viajam de outros estados para homenagens ao Santo Guerreiro

O diácono José Francisco disse que a popularidade de São Jorge vem aumentando a cada ano, ainda mais agora com a novela ‘Salve Jorge’: “Acho natural ter havido um movimento ainda maior este ano. O personagem principal (Théo, interpretado por Rodrigo Lombardi) vem sempre a esta paróquia. Muitas cenas foram gravadas aqui”, comentou o diácono, que estimou a presença de público em 200 mil pessoas, um recorde para o evento.

Para dar conta da multidão em Quintino, um telão foi colocado na parte superior da entrada da igreja para que os devotos que não conseguiam entrar pudessem acompanhar a Missa da Alvorada, às 5h.
Bençãos para primeiro filho
À espera do primeiro filho, a técnica em radiologia Amanda Vitor Neri, de 31 anos, grávida de sete meses, manteve a tradição. Moradora do bairro de Bento Ribeiro e frequentadora da paróquia de Quintino desde criança, ela participou da missa de alvorada e acendeu velas, independente do apelo da novela das 21h.
"Estou trazendo meu filho na barriga para depois trazê-lo aqui, no colo", disse a radiologista, já projetando levar o filho Júlio César à paroquia em 2014.
Foto: Osvaldo Praddo / Agência O Dia
Devotos de São Jorge lotam entrada de Igreja em Quintino | Foto: Osvaldo Praddo / Agência O Dia
Os amigos e motoboys Rafael Pinheiro, de 27 anos, e Rogério Ramos, 31, moradores de Sulacap, levaram os capacetes para pedir benções. Pela primeira vez na paróquia de Quintino, Rafael exibia orgulhoso a tatuagem com a inscrição 'Guerreiro de Jorge' gravada no peito, feita há cinco dias. Devoto do santo há quatro anos, ele foi pedir principalmente proteção no trabalho diário.
Já o aposentado Jorge Lucas, de 53 anos, cumpriu a promessa de aumentar a cada ano o número de fardos de velas, em agradecimento a sua recuperação de uma cirurgia de coluna, realizada em 2011. Apoiado em uma bengala, ele levou três fardos: 150 caixas pequenas, com cada uma contendo seis unidades e totalizando 450 velas. "Esse esforço para mim não é nada. Com certeza Ogum vai me dar muito mais força para acender mais. Não faço isso para mostrar nada para ninguém. Promessa é para ser paga", acredita Jorge.
Triciclo da fé
Vítima de um acidente automobilístico em 2010, o analista comercial licenciado André Luiz Rodrigues, de 42 anos, foi do Méier, onde mora, até Quintino, dirigindo um triciclo elétrico adaptado. Há 14 anos no Rio de Janeiro, ele se encantou desde o início pela festa de São Jorge comemorada na paróquia e nunca deixou de marcar presença.
Foto: Osvaldo Praddo / Agência O Dia
Às 4h30, o interior, a rampa, a escada de aceso e a frente da igreja já estavam completamente tomados por fiéis | Foto: Osvaldo Praddo / Agência O Dia
Uma melhora física não há. Mas há uma melhora da fé, do coração, para levantar todos os dias de manhã e seguir em frente", disse André, que fico paraplégico após o acidente, mas faz faculdade de Engenharia, se locomovendo com o triciclo.
Em mais um ano de devoção a São Jorge, o empresário Carlos Botelho, de 50 anos, começou cedo as comemorações pelo Dia de São Jorge. De pé desde às 3h30, ele já havia promovido uma queima de sete mil fogos, na Praia da Barra da Tijuca, na Zona Oeste, onde mora, e ainda participaria de uma feijoada com os amigos. Após assistir a segunda missa do dia, ele comprou mais uma imagem do santo guerreiro para levar para sua outra empresa. Ele já tem uma de cerca de meio metro.
"Digo sempre aos meus dois filhos: quem tem fé, vai longe", ensina o empresário. Ele percebeu um nítido aumento na frequência da igreja em Quintino e atribuiu a novela Salve Jorge.