Rio -  Ele só anda vestido de preto, os olhos pintados da mesma cor e os lábios, de vermelho. A pele é muito branca. Os cabelos são exageradamente despenteados. Como há muito já terminaram os anos 80, seu visual poderia parecer deslocado, não fosse ele um dos que fizeram todos os outros adotarem looks parecidos; não tivesse ele se transformado no ícone que inspirou a estética do diretor Tim Burton e o personagem de quadrinhos Sonho, da série ‘Sandman’, de Neil Gaiman. Aos 53 anos — ele completa 54 no próximo dia 21 —, Robert Smith é a cara, a voz, a guitarra e as letras do The Cure, que se apresenta pela terceira vez hoje no Rio de Janeiro, no HSBC Arena, 17 anos depois da última passagem por aqui.
Músico se apresenta no Rio | Foto: Divulgação
Músico se apresenta no Rio | Foto: Divulgação
O vocalista adota o visual até em seu dia a dia. “Sou casado com alguém que gosta de mim maquiado, seria burro se não andasse assim”, conta ele sobre Mary Poole, sua mulher desde 1988. “Além disso, só tenho uma camiseta roxa e outra verde. O resto é tudo preto. E não faço nada no cabelo, só não penteio”, jura.
Embora o clima melancólico de grande parte das músicas do grupo inglês seja adorado pelos fãs, ele garante que a tristeza não é a marca da banda. “Acho que as melhores canções são as mais tristes, mas o The Cure não seria o que é sem as felizes. A alternância entre luz e escuridão é o que faz o grupo”, diz. “E se você perguntar às pessoas na rua que músicas nossas elas conhecem, elas vão dizer ‘Boys Don’t Cry’, ‘Lovecats’, ‘Close to Me’, ‘Inbetween Days’, que são músicas felizes”, enumera.
Ele conta que suas composições sempre refletiram seu estado de espírito — que atualmente é muito diferente do de discos como o cultuado e sombrio ‘Disintegration’ (1989). “Na minha vida cotidiana, sou muito mais feliz do que eu era 20 anos atrás. Hoje eu penso: viva cada dia como o último. Aproveite o momento. Quando você é jovem, o fim da vida é algo muito distante. Quando está se aproximando dos 60, isso muda”, garante Smith.
A rotina de drogas e álcool nas turnês, segundo ele, também “mudou um pouco”. “Claro que a gente continua bebendo. Mas antes eu subia no palco bêbado, hoje eu nunca faria isso. Quando você sobe no palco bêbado aos 20, tem alguma coisa engraçada, divertida, é aceitável. Aos 50, você é só um alcoólatra”, brinca Robert Smith. “Mas a atitude é a mesma. Eu ainda quero sentir emoções extremas”, garante ele, que promete pelo menos três horas e meia de show.
Recordações das terras brasileiras
Em sua terceira turnê com o The Cure pelo Brasil, Robert Smith lembra as passagens anteriores pelo país. “A primeira vez, em 1987, foi louca: vimos fãs histéricos aí e foi uma surpresa. Precisou disso para a gente se dar conta de que era muito popular”, conta.
“Na segunda (em 1996, no festival Hollywood Rock), eu estava muito doente. Eu me senti mal no avião e continuei me sentindo depois. Não gostei muito do show, fiquei frustrado por não me sentir bem o suficiente. A gente andou um pouco pelo Rio, filmamos na praia, mas eu estava me sentindo tão lixo! Agora vai ser muito melhor: somos uma banda melhor e temos músicas melhores”, diz.
Sobre a demora para voltar ao país, ele afirma não ter explicação. “Nos próximos meses vamos passar por países onde nunca estivemos, como Paraguai, Chile, Peru. Não sei, parece muita burrice, já que o The Cure é muito querido em geral na América Latina. Mas a gente não deve demorar tanto da próxima vez”.