Especial Marcação: O pulsar dos batimentos
Reportagem conta curiosidades do surdo. Dividido em três modelos, o instrumento é o maior xodó dos mestres de bateria do Carnaval
POR RAFAEL ARANTES
Especial Surdo: Instrumento é o maior xodó dos mestres | Foto: Ricardo Almeida / Divulgação
Nilo exaltou importância básica dos surdos para as baterias | Foto: Divulgação
"Os surdos possuem um valor fundamental, é a maior base de uma bateria. Quando temos um grupo de ritmistas de grande qualidade, possuimos a certeza que conseguiremos uma apresentação segura. É importante, que durante todo o desfile, as marcações estejam seguras, até para evitar que o ritmo acabe atravessando. Enquanto o surdo de primeira e o de segunda ditam o tempo, o de terceira dá todo um balanço, como se fosse o violão de uma bateria, ou até mesmo o baixo. Não adianta negar que as caixas também influenciam o andamento, mas boas marcações fazem a diferença e evitam um desencontro rítmico", disse Nilo, que ainda ressaltou alguns dos fatores que diferem as marcações de cada bateria.
"O velho adjetivo da bateria 'pesada' se relacionada com a questão do tom mais grave. Mas é claro que é preciso ter uma certa diferença na afinação e o diâmetro dos surdos. Este são fatores que possuem muita influência nisso. Jamais será possível igualar a afinação de uma peça de 18 polegadas com uma de 24, por exemplo. O máximo que vamos conseguir aproximar já irá mostrar uma diferença muito grande. Por isso é importante também que exista um padrão no tamanho dos instrumentos. Todos os surdos de cada tipo precisam ser iguais, é fundamental que haja uma padronização. É preciso apresentar um conjunto musical uniforme".
No mesmo tom
Um dos tópicos que faz a diferença quando fala-se de surdos é a afinação. Necessária, e cada vez mais aprimorada com o passar dos tempos, o método de realizá-la pode variar, mas o valor é o mesmo, manter o padrão de todos os instrumentos. Um dos grandes nomes entre os diretores responsáveis por afinação no Carnaval do Rio está presente no cenário há 13 anos e cada vez mais motivado.
No mesmo tom
Demétrius cuida da afinação com toda a dedicação possível | Foto: Divulgação
Com 26 anos de idade, Demétrius Luiz começou a caminhada no samba na Cubango, mas acabou trocando o lado ritmista pelo de diretor em 2006, quando passou a fazer parte da bateria da Porto da Pedra e teve seu pontapé inicial para toda uma trajetória junto à famosa chave. Sempre em ação, o sambista comentou um pouco da importância de toda a preocupação com a afinação de cada surdo.
"Olha, a afinação é um fator importante pois não adianta ter uma primeira afinada e uma segunda totalmente frouxa, ou vice-versa. É preciso um padrão. Cada escola tem sua afinação, cada mestre sua preferência, mas uma boa afinação ajuda até mesmo no conjunto de uma bateria, podendo até salvar todo o conjunto. Eu sou um pouco chato com isso, afino quando o instrumento desce do caminhão, depois reviso na concentração e quando a bateria sobe vou verificar surdo por surdo antes de sair do box. Até quando saimos para a pista busco estar atento, procurando sempre a perfeição. O objetivo é que possamos sair com um som limpo, que o ritmista só precise tirar o som do surdo, sem precisar fazer um esforço extremo para isso. Afinal, o boi já está morto (risos)", disse.
"Olha, a afinação é um fator importante pois não adianta ter uma primeira afinada e uma segunda totalmente frouxa, ou vice-versa. É preciso um padrão. Cada escola tem sua afinação, cada mestre sua preferência, mas uma boa afinação ajuda até mesmo no conjunto de uma bateria, podendo até salvar todo o conjunto. Eu sou um pouco chato com isso, afino quando o instrumento desce do caminhão, depois reviso na concentração e quando a bateria sobe vou verificar surdo por surdo antes de sair do box. Até quando saimos para a pista busco estar atento, procurando sempre a perfeição. O objetivo é que possamos sair com um som limpo, que o ritmista só precise tirar o som do surdo, sem precisar fazer um esforço extremo para isso. Afinal, o boi já está morto (risos)", disse.
João Maluco é referência clássica na afinação dos surdos | Foto: Divulgação
Sobre o assunto, Demétrius ainda exaltou um dos mais famosos nomes do Carnaval quando o foco é a afinação, o conhecido João Maluco.
"Não há o que falar do João, não tenho nem palavras. Ele sabe tudo. Aprendi muito olhando o trabalho dele, vendo ele afinar milhões de surdos em diversas baterias. Tiro o chapéu para ele, com certeza", concluiu. Confira a bateria de uma das escolas que teve os surdos afinados por Demétrius em 2013, a União do Parque Curicica:
Curiosidade inversa
Enquanto a maioria das escolas de samba costumam afinar seus surdos mantendo a base da primeira ser o grave, a segunda ser o médio-agudo, e o de terceira o agudo, também existem as opções diferenciadas. Na Mocidade, os instrumentos são afinados de maneira oposta, tendo a primeira como o surdo médio-agudo, ao inves da segunda. O fato, no entanto, não é de agora. A característica é fundamentada há muito tempo, desde a época dos primórdios da Não Existe Mais Quente, como contou mestre Bereco.
Dudu e Bereco utilizam a característica tradicional | Foto: Alex Nunes / Divulgação
"Na Mocidade, a questão da afinação é algo que vem desde os tempos do mestre André. Nossos surdos de primeira são mais agudos, enquanto os de segunda são graves, de maneira oposta como acontece nas co-irmãs. É uma questão bastante própria, realmente uma marca da identidade da nossa bateria. Esta característica é realmente um grande legado deixado pelo mestre André, uma marca diferente da nossa bateria, que também foi a primeira a implantar o surdo de terceira, que é uma criação do nosso baluarte João Miquimba", comentou Bereco.
Terceira rebelde
Um dos assuntos que também acaba tomando um tom um pouco polêmico é sobre os surdos de terceira. Com a função de regrar uma dinâmica entre os outros dois tipos, a terceira pode variar bastante sua batida, principalmente pelos desenhos. No entanto, uma certa escola aposta na distinta levada básica como diferencial. No lado verde de Madureira, a bateria do Império Serrano se apresenta com um toque de terceira bastante diferente dos demais, fato visto como uma essência baseada no jongo pelo ex-mestre, e atual presidente, Atila Gomes.
Terceira rebelde
Um dos assuntos que também acaba tomando um tom um pouco polêmico é sobre os surdos de terceira. Com a função de regrar uma dinâmica entre os outros dois tipos, a terceira pode variar bastante sua batida, principalmente pelos desenhos. No entanto, uma certa escola aposta na distinta levada básica como diferencial. No lado verde de Madureira, a bateria do Império Serrano se apresenta com um toque de terceira bastante diferente dos demais, fato visto como uma essência baseada no jongo pelo ex-mestre, e atual presidente, Atila Gomes.
Atila comentou ligação das terceiras do Império com o jongo | Foto: Divulgação
"A levada dos surdos de terceira do Império possui uma característica baseada no toque do jongo. A Sinfônica do Samba tem uma referência muito grande a esse ritmo, que tem uma grande ligação com a escola. É uma batida que se encaixa perfeitamente com os agogôs, que são tradicionais também na nossa bateria. Os recortes das terceiras se ligam de uma maneira perfeita com os desenhos desempenhados pelos agogôs, possuem a mesma linha melódica. É um toque com aquela levada diferente do 'tá tudo muito bom, tá tudo muito bom'", disse Atila, que ainda ressaltou os intensos desenhos feitos pelas terceiras durante suas apresentações.
"Existem também aqueles toques sequênciais que todo mundo já conhece há um tempo. Esses desenhos possuem uma grande sincronização com os sambas, fazem as terceiras atuarem como um violão de sete cordas. Uma característica própria da bateria do Império", acrescentou.
Ausência objetiva
Enquanto os três tipos de surdos se mesclam para dar uma das bases de uma bateria, a Mangueira trabalha de um jeito totalmente diferente. A bateria Surdo Um é, literalmente, desta forma. Na Verde e Rosa, o surdo de segunda não se faz presente, tendo durante todo o tempo, o surdo de primeira mantendo a base para toda a bateria. Segundo mestre Ailton, o diferencial é próprio e dá todo um toque especial para o conjunto.
"Existem também aqueles toques sequênciais que todo mundo já conhece há um tempo. Esses desenhos possuem uma grande sincronização com os sambas, fazem as terceiras atuarem como um violão de sete cordas. Uma característica própria da bateria do Império", acrescentou.
Ausência objetiva
Enquanto os três tipos de surdos se mesclam para dar uma das bases de uma bateria, a Mangueira trabalha de um jeito totalmente diferente. A bateria Surdo Um é, literalmente, desta forma. Na Verde e Rosa, o surdo de segunda não se faz presente, tendo durante todo o tempo, o surdo de primeira mantendo a base para toda a bateria. Segundo mestre Ailton, o diferencial é próprio e dá todo um toque especial para o conjunto.
Mestre Ailton exaltou a característica própria da Surdo Um | Foto: Divulgação
"A marcação da nossa bateria é um diferencial básico. Nosso surdo de marcação toca apenas a primeira, além de termos a presença do surdo mór, que faz o corte que nos é peculiar. É uma questão única da Mangueira, uma identidade própria. Junto com essa questão temos também as nuances marcantes do tamborim, a presença do repique floreando de maneira livre e até mesmo a presença da ala de timbal. Mas a nossa base mesmo é o surdo de primeira. Os outros instrumentos tocam a partir dele. Nem pensamos no que seria o surdo de segunda. Somos totalmente diferentes", disse Ailton, que reforçou a identidade mangueirense com o conhecido trecho de um samba marcante da escola: "Todo mundo te conhece ao longe, pelo som do seu tamborim e o rufar do seu tambor..."
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