Rio -  O Artilheiro dos Gols Bonitos está de volta ao Rio. Aos 38 anos, Dodô veio jogar no Barra da Tijuca, da Segunda Divisão. O contrato vai até julho, quando ele deverá pendurar as chuteiras. Um fim de linha modesto para quem roubou a cena nos grandes clubes do futebol brasileiro por mais de 21 anos. Uma história que se transformou em amor no Botafogo, clube com o qual mais se identificou.
Após ser campeão e artilheiro do Carioca em 2006, Dodô caiu nos braços da torcida. Mas um caso de doping mal-explicado até hoje o tirou de ação por dois anos. Feliz em voltar para ‘casa’, Dodô curte os últimos dias de uma carreira marcada por belíssimos gols.
Foto: André Mourão / Agência O Dia
Dodô foi anunciado no Barra da Tijuca na última semana | Foto: André Mourão / Agência O Dia
O DIA: Porque você aceitou o desafio de jogar no Barra da Tijuca, da Segunda Divisão?

Dodô: Eu encaro de uma forma diferente. No tempo em que fiquei parado (quase dois anos por doping), jogava pelada três vezes por semana só para me divertir. Nesse período, viajei muito com a minha família, cuidei dos meus filhos. Aproveitei tudo o que podia. No Rio, minha mulher e meus filhos têm muitos amigos, e eu também. Então, esses três meses são mais para agradar a todo mundo. Sou de São Paulo, mas o Rio é minha segunda casa e estou feliz de voltar a jogar aqui.

Depois você vai encerrar a sua carreira?

Não tenho noção nenhuma. Eu ia parar de jogar, estava para encerrar, aí o Vampeta me ligou para eu jogar no Grêmio Osasco. Estava em Miami e na volta fui jogar lá. Depois, o Adílson (presidente do Barra) me chamou. Quero ver se consigo jogar mais um pouco. Quando acabar o Carioca, vou me decidir.

Você pensa em ser treinador ou dirigente?

Vou fazer alguma coisa ligada ao futebol. Só não decidi se vai ser dentro ou fora de campo. Não sei se tenho o perfil de treinador, talvez... mas tenho muito conhecimento. Vivi muita coisa no futebol e pode ser que dê certo. Fora de campo também conheço muita gente. Muitas pessoas me dizem que eu seria um bom dirigente, um bom gerente de futebol. Mas, enquanto não me decido, vou jogar uma bolinha.

Você já tem 38 anos. Nessa fase, o futebol é apenas diversão?

Agora é totalmente prazer. Graças a Deus, com tudo o que aconteceu na minha carreira, posso me dar a esse luxo. Com diversão, mas com o comprometimento de ajudar o time quando entrar em campo. Mas o prazer está em primeiro lugar.

O futebol mudou muito desde que você começou a jogar?

Hoje o futebol está muito mais competitivo, nivelado. Com algumas exceções, quem joga aqui no Barra da Tijuca joga em time grande, porque está muito igual. Hoje, vale mais a força física e quem tem um pouquinho a mais de técnica se sobressai bastante. O futebol mudou muito mesmo.

Você fez belíssimos gols em sua carreira. Gol bonito é uma obsessão?

Desde garoto, sempre prestei atenção nos caras mais técnicos. Sempre procurei fazer as coisas pensando e não de qualquer jeito. Mas o gol bonito é consequência. Sempre tentei tirar a bola do goleiro de uma forma que ele não chegaria. Com o tempo, fui me aperfeiçoando e sempre tentando fazer a jogada perfeita.

Quem faz gol bonito hoje em dia no futebol?

Ah, o Neymar, né? Ele é disparado o melhor jogador que a gente tem. É muito acima dos outros. E no mundo são Messi e Cristiano Ronaldo.

Você está confiante na geração que vai disputar a Copa do Mundo no Brasil?

Estou. Tem o Oscar, que é muito bom, o Lucas. São jogadores importantes. Tem muita gente duvidando, mas na hora que chegar a época da Copa do Mundo vai ser difícil segurar o Brasil.

Vai ter botafoguense torcendo por você nas arquibancadas da Segundona?

Não sei. Sei que aconteceu muita coisa no Botafogo. Dentro de campo foi sempre maravilhoso, não teve momento ruim. Mas depois aconteceu o negócio do doping, que enterrou por dois anos uma carreira muito boa.

Ficou alguma mágoa do Botafogo pela questão do doping?

Eu só tenho uma certeza: não fiz nada de errado e fui o único que pagou pelo que aconteceu. Mas não tem mágoa, não adianta também.

Qual foi o seu melhor momento no Botafogo?

Cheguei no Botafogo em 2001 e em 2002 tive um momento maravilhoso. Fiz 30 gols em meia temporada. Em 2006, fomos campeões do Carioca, depois de quase 10 anos sem ganhar. Fui o melhor jogador e artilheiro do Carioca em 2006 e 2007. Lembro de algumas arbitragens infelizes. Em 2007, meteram a mão na gente, foi impressionante. Mas as três passagens foram ótimas. O ruim mesmo foi o doping, que quebrou tudo. Poderia ter ficado lá mais dois anos recebendo, mesmo com a suspensão, mas não quis. Não confiava mais.

No Fluminense você brigou com o técnico Renato Gaúcho?

Na época da Libertadores eu tive uma lesão no rosto e depois teve a suspensão por doping. Quando voltei, o Renato me deixou na reserva. Todo mundo queria que eu jogasse, e eu também. Eu entrava e fazia gol. Contra o Boca e o São Paulo joguei muito bem. Mas eu entendo. Depois, o Renato me ligou para eu jogar no Bahia. Ele é parceiro. No Fluminense, foi bom, apesar do período curto. A torcida gostava de mim.

Como foi o seu retorno ao ao futebol no Vasco, depois do doping?

O primeiro jogo, contra o Botafogo, fiz três gols (dos 6 a 0). Depois a gente perdeu a final da Taça Guanabara. Mas o Vasco abriu as portas para mim depois de dois anos. Tive uma recepção que nunca imaginei. A torcida fez até funk (‘É o poder, Dodô é o poder, artilheiro da Colina faz um gol para a gente ver’). Foi a melhor música que já escutei para um jogador. Foi muito legal.

Por que não deu certo?
Eu vinha de dois anos sem jogar. Errei no momento em que queria fazer tudo o que os outros faziam, treinar do jeito que os outros treinavam para ninguém falar depois que eu estava há dois sem jogar. Foi meu erro.

Você se arrepende de algo na sua carreira?

Eu voltaria a jogar de uma forma mais tranquila e inteligente no Vasco. Sou muito intenso no que faço. Amo o futebol e sempre joguei com muito prazer, tendo dinheiro ou não. O futebol é minha paixão. Jogo de graça. Sempre foi assim. Mas sempre fui muito ingênuo. Só me importava com o treino, em jogar, não queria saber de conversinha. Nunca puxei o saco de ninguém. Mas arrependimento? Olho para a minha família e tenho que agradecer muito a Deus. Tem jogador que ganhou muito mais do que eu, que jogou Copa do Mundo, e não tem o reconhecimento que tenho.

Quando você parar como gostaria de ser lembrado?

Para ser lembrado tem que ser um Pelé, Zico. Sempre tentei jogar bem e fazer as coisas direito. Tive momentos legais na minha carreira, fiz quase 400 gols oficiais. O que fica são os gols. No futuro vão se lembrar do Dodô como o cara que fazia gols bonitos.