Rio -  Há estreito vínculo entre religião e ecologia. Nossa civilização estará condenada à barbárie se as pessoas perderem a capacidade de fazer silêncio, de meditar, de modo a saber escutar as necessidades do próximo e o grito da Terra.
Apesar do crescimento da consciência ecológica (reciclagem, uso da água, produtos ecologicamente corretos etc.), ainda estamos atrelados a um modelo altamente nocivo à saúde da Terra e dos seres humanos.
Continuamos a consumir combustíveis escassos e poluentes e, na contramão de todo o movimento ecológico, submergimos à onda consumista que produz perdas significativas da biodiversidade e toneladas de lixo derivado de nosso luxo.
Três grandes mentiras precisam ser eliminadas para que o futuro seja ecologicamente viável e economicamente sustentável: 1) Os recursos da Terra não são suficientes para todos; 2) Devo assegurar os meus recursos, ainda que outros careçam dos mesmos; 3) O sistema econômico que predomina no mundo, centrado na lógica do mercado, e o atual modelo civilizatório, de acumulação de bens, são imutáveis.
Nosso planeta produz, hoje, alimentos suficientes para 12 bilhões de pessoas, e é habitado por 7 bilhões. Portanto, não há excesso de bocas, há falta de justiça.
Não haverá futuro digno para a humanidade sem uma economia de partilha e uma ética da solidariedade.
Durante milênios povos indígenas e tribos desenvolveram formas de convivência baseada na harmonia com a natureza e com os semelhantes. Como considerar ideal um modelo civilizatório que, dos 7 bilhões de habitantes do planeta, condena 4 bilhões a viverem na pobreza ou em função de suas necessidades animais, como se alimentar, abrigar-se das intempéries e educar as crias?
Escritor, autor do novo romance ‘Aldeia do silêncio’, já nas livrarias