Rio -  O discurso do governo federal sobre as condições da economia brasileira vem mudando a cada dia, apontando para um cenário preocupante e, por que não dizer, pior. Porém, também expressa otimismo quanto à superação das dificuldades e de que teremos um final feliz. No entanto, entre a população há uma clara percepção de que os preços nos supermercados não se param de subir, principalmente os dos alimentos.
Mas, ao mesmo tempo, há a certeza de que, na média, a vida melhorou. É possível gastarmais e comprar mais produtos que dão prazer. Parece uma contradição, mas não é.
O governo vem dando sinais de que pode tolerar uma inflação maior, se este for o preço a pagar para estimular a expansão da nossa economia e o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto).
Ao mesmo tempo em que o gasto público cresceu, o governo concedeu incentivos fiscais para vários setores, como a linha branca e os automóveis, desonerou a folha de pagamentos para vários segmentos, reduziu os juros. Essas diversas ações, no entanto, não está produzindo o resultado esperado.
Os índices de desempenho não apontam para um crescimento consistente e sustentado da economia. O setor automobilístico ora cresce, ora encolhe e, na média, está praticamente no mesmo lugar, mesmo com o IPI (Imposto sobre Produto Industrial) menor e o crédito farto e barato.
A indústria, como um todo, encolheu até agora neste início de ano. A inflação, se medida nos últimos 12 meses, deve romper o limite de 6,5% ao ano já na próxima divulgação do IPCA — percentual acima da meta de 4,5% desejada pelo governo.
Sabe-se que é preciso estimular o investimento privado para gerar um crescimento econômico duradouro, sob pena de devolvermos todas as conquistas dos últimos anos. Os ótimos índices de popularidade e aprovação da presidenta Dilma lhe dão autonomia e margem para agir.
Mas o governo não pode se acomodar na percepção do cidadão. É importante alertar que tudo isso pode mudar rapidamente, se as condições da economia continuarem a se agravar ao longo do ano, e o bem virar mal estar.
Professor de Finanças do Ibmec