Rio -  A grade de proteção do Viaduto Brigadeiro Trompowski onde  ônibus da linha 328 (Bananal-Castelo) caiu apresentava pontos bastante corroídos pela ferrugem.

Segundo a Secretaria Municipal de Obras (SMO), foram feitos reparos há um ano, quando houve a recomposição de trechos da estrutura metálica que estavam danificados. Desde então, diz a SMO, é vistoriada periodicamente.

Para o presidente do Conselho regional de Engenharia e Agronomia do Rio (Crea), Agostinho Guerreiro, seria impossível a grade suportar o impacto. Para ele, houve falha no projeto.

Ônibus despenca de viaduto na Avenida Brasil

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Tragédia deixou mortos e feridos em via expressa

“Ele é completamente inadequado, assim como a conservação. O viaduto fica em um local relativamente próximo ao mar e dá para perceber a ação da corrosão”, explica
Agostinho, que diz ser um "milagre" que nenhum outro acidente tenha ocorrido antes no local. “Até mesmo um carro de passeio, dependendo da velocidade, poderia ter caído”.

A SMO informou que vai providenciar a colocação imediata de uma proteção provisória no local até que as obras de recuperação sejam iniciadas.

Veículo tinha 46 multas

O veículo acumulava 46 multas desde que entrou em operação, em 2007.  Entre as principais infrações do veículo, pertencente à empresa Paranapuan, está o excesso de velocidade, circular fora da faixa para ônibus no corredor BRS e parada irregular.
Pelo menos sete pessoas morreram em tragédia | Foto: Carlo Wrede / Agência O Dia
Pelo menos sete pessoas morreram em tragédia | Foto: Carlo Wrede / Agência O Dia
As informações são da Secretaria Municipal de Transporte. Enquanto isso, no Detran, o veículo está com a vistoria atrasada desde outubro passado.

As multas em aberto somam R$ 1.787,65. A mais recente foi registrada no dia 14 do mês passado. Trata-se de uma infração média, porque o motorista do ônibus trafegava fora da faixa do BRS na Avenida Presidente Vargas, no Centro.

Somente este ano, o coletivo foi notificado por cinco infrações — sendo que quatro por trafegar em velocidade acima do permitido. A Secretaria de Transportes afirmou que o veículo do tipo micromaster urbano sem ar, ano 2007, placa KYI-0973, foi vistoriado pelaprefeitura em 3 de julho passado. As vistorias do Executivo municipal têm validade de um ano.
Helicópteros foram usados para resgatar feridos e monitorar o trânsito: congestionamento chegou a 9 km | Foto: Carlos Eduardo Cardoso / Agência O Dia
Helicópteros foram usados para resgatar feridos e monitorar o trânsito: congestionamento chegou a 9 km | Foto: Carlos Eduardo Cardoso / Agência O Dia
A secretaria determinou que o Consórcio Internorte, do qual faz parte a Paranapuan, entregue à prefeitura os dados do tacógrafo do veículo e as imagens das câmeras internas do mesmo, gravadas nesta terça-feira. O prefeito Eduardo Paes disse que vai acompanhar de perto a perícia e as investigações da Polícia Civil.

“Estou muito triste com o que aconteceu. Ainda temos informações muito desencontradas sobre o que houve”, disse Paes, no Centro de Operações da prefeitura, na Cidade Nova.

Retrospecto do motorista

Em nota, a Fetranspor (Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Rio) informou que ‘o motorista era antigo na Paranapuan e sem retrospecto de acidentes’. Além disso, destaca que o ‘ônibus estava em dia com suas vistorias, tinha seis anos de uso e era dotado de tacógrafo, GPS e câmeras’.
Foto: Marcus Vinicius
Corpos de vítimas foram reconheecidos no IML | Foto: Leitor Marcus Vinicius
Desespero toma conta de quem buscava informações

No local do acidente, amigos e familiares das vítimas estavam desesperados por informações. O estudante Alexandre da Silva Rodrigues, morador da comunidade Parque União, na Maré, procurava notícias da namorada, a operadora de caixa de um supermercado na Ilha Luciana Chagas.

“Ela me ligou dizendo que tinha entrado no ônibus e depois fiquei sabendo desse acidente. O celular dela só dá desligado. Me disseram que ela ficou ferida mas os bombeiros não sabem para qual hospital ela foi levada”.

Em junho passado, um outro acidente teve contornos de tragédia na Avenida Brasil. Na ocasião, um motorista da linha 484 (Olaria-Copacabana) perdeu a direção e subiu calçada num ponto na altura da Favela Parque Alegria, no Caju. Cinco pessoas morreram e mais de 20 ficaram feridas.

Corpos reconhecidos no IML

Os corpos da tragédia na linha 328 (Bananal-Castelo) foram reconhecidos no Instituto Médico Legal (IML) como sendo de Luis Antônio Amaral, 41 anos; Marcius Flávio Nascimento, 42 anos; Oséias da Silva Cardoso, 39 anos; Francisco Batista de Souza, 40 anos; José Adaílton de Jesus, 42 anos, Luciana Chagas da Silva, 26 anos; e Ângela Maria Reis da Silva, 62 anos.

“Meu marido tinha saído mais cedo do trabalho para ver um jogo da Liga dos Campeões da Europa (PSG x Barcelona). Quando soube do acidente, liguei para ele correndo. Como não atendeu, bateu aquela dor. Ele nunca deixava de atender o celular“, afirmou a dona de casa Michele do Nascimento Vieira, 34 anos, viúva de Marcius, auxiliar administrativo da UFRJ. Nesta quarta-feira, é aniversário de 1 ano da caçula de Márcio.

Para quem assistiu à tragédia, o cenário era de terror. “Escutei um estrondo. Atravessei a Avenida Brasil e corri para tirar quem estava vivo do ônibus. O momento mais doloroso foi ver as pessoas já mortas. Tinha muita gente gritando, pedindo socorro. Entrei pela janela e consegui retirar, primeiro, um rapaz. Depois, ajudei mais umas três ou quatro vítimas”, contou o motorista Fernando Almeida de Azevedo, de 31 anos.