Karla Rondon Prado: Fora da área de cobertura
Com uma caminhada próxima, chega-se a uma poderosa cachoeira, com cheiro delicioso de jasmim pela estradinha de terra. Hoje é bacalhau no forno, amanhã tem churrasco e, de sobremesa, temos um bolo de pão de ló com doce de leite: um bem-casado gigante, com açúcar de confeiteiro por cima. Na hora de dormir, chás turcos de limão, maçã e canela para tomar juntos ou separados. Querendo ler um livro ou ver a Lua lá fora, redes grandes que acolhem como colo de mãe. A luz elétrica só chegou a esse paraíso em 1999. Então, imagine a internet? Um lugar tão escondido que nem celular pega.
E por quanto tempo é possível se desligar?
Quando uma oportunidade dessas aparece, conclui-se: silêncio, sossego, graças a Deus não vão me achar. E não será culpa minha e, sim, da localização. Portanto, não precisarei me explicar. Simples, sem cobranças, pois todos entenderão.
O telefone não deu sinal de vida. Ele também se desligou do mundo, e por isso sua bateria poderá ter o devido descanso. Uma ponte bucólica sobre um rio caudaloso e ele é lembrado: foto. Mas não dá para compartilhar. Nada de Facebook, e-mail, Instagram. Sorriso calmo, mas carente de contato. E assim as horas passam, o celular vai para dentro da mala e não se sabe o que fazer com o tempo livre.
O que estão fazendo ou comendo, com quem e onde? Eu estou em paz. As mãos de vez em quando procuram a tela do telefone, buscando atualização de informações. Muitas, de todo tipo, poluentes, barulhentas, nos trazendo para uma situação que às vezes não queremos, mas temos que ver, saber, dar um ‘update’... até pifar. Nosso corpo já está condicionado. Mas até quando?
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