Rio -  Um bolsão de 3 milhões de metros quadrados de poluição, localizado na foz dos rios Sarapuí e Iguaçu, em Duque de Caxias, é um risco potencial às cidades da Baixada Fluminense e à Baía de Guanabara. Composto por lixo, esgoto, lama e óleo, não representa apenas mais sujeira nas águas. Para a população, é uma ameaça real de mais enchentes e epidemias.
Bolsão composto por lixo, esgoto, lama e óleo está localizado na foz dos rios Sarapuí e Iguaçu, em Duque de Caxias: risco potencial ao meio ambiente e à Baía de Guanabara | Foto: Divulgação
Bolsão composto por lixo, esgoto, lama e óleo está localizado na foz dos rios Sarapuí e Iguaçu, em Duque de Caxias: risco potencial ao meio ambiente e à Baía de Guanabara | Foto: Divulgação
De acordo com o ambientalista Mario Moscatelli, autor do registro aéreo do bolsão, a transformação da bacia hidrográfica da Baía de Guanabara num imenso valão de esgoto e lixo tem consequências de natureza ambiental, de saúde pública e socioeconômica. Para o meio ambiente, há uma perda da biodiversidade de toda a região, sobrevivendo nos rios apenas as espécies capazes de suportar a presença humana e sua degradação associada.
Inúmeras doenças por veiculação hídrica podem ser contraídas nas águas pútridas dos rios da região, variando de micoses a gastroenterites e hepatite: “Cair nesses corpos d’água é de fato perigo para a vida de qualquer ser humano.” Já no aspecto socioeconômico, ele explica que, com a transformação dos rios em valões de esgoto, perdem-se serviços. “Atividades econômicas diversas, do ecoturismo à pesca comercial e artesanal, do esporte de competição ao de lazer”, enumera.
Para o historiador Genesis Torres, desde que os rios da Baixada perderam sua função como vias de transporte da produção para as ferrovias, em 1858, a população começou a crescer em seus entornos desenfreadamente, até pela proximidade com o Rio de Janeiro. “Os governos não investem em saneamento na Baía de Guanabara. Há uns 20 anos que esses rios estão abandonados e em esgoto a céu aberto”, disse.
População joga o lixo de suas casas direto no Rio Pavuna, na divisa com o Município de São João de Meriti | Foto: Estefan Radovicz / Agência O Dia
População joga o lixo de suas casas direto no Rio Pavuna, na divisa com o Município de São João de Meriti | Foto: Estefan Radovicz / Agência O Dia
Gestão de resíduos sofre com descaso
Hélio Vanderlei Filho, da ONG Onda Verde, critica o sistema de coleta de lixo, que, segundo ele, está ligado às péssimas administrações no sistema de gestão de resíduos sólidos, sem planejamento e pessoal qualificado. A tarefa fica a cargo de empresas privadas, que não têm compromisso com a gestão pública.
“O poder público não possui pesquisa sobre o problema e atua de forma paliativa, sem definir plano de gestão de resíduos. Nossos rios não são mais rios, são valões de esgoto in natura a céu aberto, levando todo tipo de detrito à Baía. Não adianta falar em despoluí-la para as Olimpíadas se não realizar a coleta e tratamento dos esgotos das milhares de residências na Baixada, onde residem 3,5 milhões de pessoas”, defende.
Inea: cenário poderia estar ainda pior
A presidenta do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), Marilene Ramos, afirmou que “o cenário poderia estar pior” se não fosse o Projeto Iguaçu, que já retirou 5 milhões de metros cúbicos de sedimentos da área de 2008 para cá. A segunda fase do programa, segundo ela, aguarda licitação e terá R$ 415 milhões de orçamento para dragagens dos rios da Baixada, a retirada de um milhão de metros cúbicos de sedimentos e para o reassentamento de 2.500 pessoas que moram nas margens dos rios.
Já a Cedae informou que o monitoramento e o combate à poluição e ligações clandestinas em rios são atribuições do Inea, mas a companhia já realiza o tratamento de esgoto captado em parte da região da Baixada na Estação de Tratamento de Esgotos (ETE) de Sarapuí, que trata 1.500 litros de esgoto por segundo.