Rio -  Você sabe quem é Vó Maria? Pois deveria saber, porque ela é a mais velha cantora do mundo ainda em atividade. Maria dos Santos, cujo nome artístico e afetivo (para uma legião de admiradores) é o doce Vó Maria, significa uma legenda para quem gosta dos folguedos populares, da voz das biroscas e das rodas de samba do Rio.
Viúva de Donga, o pioneiro que com seu ‘Pelo Telefone’ inaugurou o samba como gênero musical em 1917, Vó Maria viveu a alma carioca com apetência e dignidade. Viveu, e vive, cercada de afetos e cuidados por todos os lados, especialmente por parte de seus parentes e amigos. Afinal, ela, que é negra, mulher e quase pobre, bem significa o paradigma do sacrifício e das discriminações que este país injusto ainda impõe.
Para que vocês tenham ideia da força, do carisma e do talento de Vó Maria: ela gravou seu primeiro CD há exatos 10 anos, aos 93 de idade. Este, de tão relevante, foi produzido com auxílio direto do Fundo Nacional de Cultura.
O disco, saborosamente intitulado ‘Maxixe não é Samba’, estará sendo relançado neste sábado. Vale dizer que, a par do repertório exemplar, que inclui certamente o ‘Pelo Telefone’, o CD conta com participações especiais de estrelas do porte de Martinho da Vila e Beth Carvalho, ambos devotos dela, como toda a constelação do samba.
Figura adorável, de porte franzino, muito religiosa e extremamente bondosa, além de bem-humorada, Vó Maria singrou essas mais de dez décadas vivenciando os grandes momentos da música popular e da alma encantadora das ruas. E isso desde os sambistas dos anos 20 e 30 que frequentavam a casa de seus pais até o seu casamento, o terceiro dela, com nosso Donga, figura essencial da história da MPB, não apenas por ele próprio, mas por todos os companheiros de geração como Pixinguinha e João da Bahiana, seus melhores amigos.
A par do relançamento do histórico e hoje esgotadíssimo CD, Vó Maria será homenageada com uma primeira exposição museográfica sobre sua vida, que ficará montada por dois meses na Urca, quando grupos de jovens estudantes das escolas poderão saber tudo sobre ela. E sua vida tão útil e bela.
Ricardo Cravo Albin é presidente do Instituto Cultural Cravo Albin