Rio -  Outro dia, meu filho, Henrique, hoje com 8 anos, foi pesquisar no Google sobre a melancia. A fruta mesmo. Apoquentado, me chamou sem entender por que uma moça de medidas avantajadas invadira a sua busca. Foi hora de explicar como os valores (sic) estão diversos hoje em dia. Ali, o meu pequeno precisou saber da existência das mulheres-fruta.
Mais adiante, no carro, a notícia sobre a invasão dos cracudos à Avenida Brasil oconvidou à reflexão:
— Eles são craques de quê, mamãe?
Ali, precisei mostrar a ele que, na verdade, aquelas pessoas não faziam algo digno de consagração, de craques, e, sim, que uma droga pesada os resumia a usuários superdependentes e alucinados.
Mais um pouco adiante, o telejornal contava o drama das pessoas na fila quilométrica do Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia, o Into. Na entrevista, uma senhora bem idosa chorava a triste experiência de dormir na fila com um banquinho levado de casa. Perplexo, ao lado dos avós, Henrique quis saber:
— Ué?! Mas ela não tem prioridade?!
Quando eu era criança, na época do DOS e Carta Certa, as pesquisas eram feitas na Barsa, as rádios só tinham programação musical, a televisão (aquela da caixa grande que ainda esquentava para pegar no tranco) tinha horário certo para ser ligada e desligada. Internet? O que era isso? Tinha diário de papel, não existiam blog nem rede social, eu enviava cartas pelos correios e não tinha e-mail... Mas isso faz tempo. Ficou para trás.
Na Era Midiática, as informações ganharam velocidade, na emissão e na recepção, e controlar o processo de comunicação ficou impossível. Salvo se alguém optar por uma ilha deserta ou uma bolha.
‘Proteger as crianças’ ganhou outro significado. No lugar de dizer ‘Isso não é coisa para criança!’, precisamos, sim, dar a elas todas as informações requeridas. Vamos respondê-las sim, e de forma adequada. Vamos recontar!
Simone Ronzani é jornalista, pós-graduada em Gestão do Entretenimento pela ESPM/RJ, é criadora do site www.recontando.com