Rio -  Uma das vítimas da tragédia na Avenida Brasil, Daniel Silva afirmou que deixou de receber assistência da empresa Paranapuan, que integra o consórcio Internorte, após dar declarações contra o motorista em entrevista a Rede Record, nesta quarta-feira.
“Ele (representante da empresa) me ligou dizendo que não me ajudaria mais”, denunciou Daniel, que também criticou o atendimento no Hospital Federal de Bonsucesso. “Não tinha o material para imobilizar minha perna. Sai de lá e fui para um hospital particular. Só cheguei em casa às 3h da madrugada”.
Ainda segundo ele, a discussão entre o motorista e um passageiro, que seria o universitário Rodrigo Freire, teria começado com deboche do condutor. “O motorista disse para o rapaz que, se ele não tivesse satisfeito, comprasse um carro”.
Nenhum representante da Paranapuan foi localizado para comentar as declarações de Daniel Silva.
Mulher chora depois de receber a confirmação de uma morte no IML de São Cristóvão, nesta quarta: desespero | Foto: Osvaldo Praddo / Agência O Dia
Mulher chora depois de receber a confirmação de uma morte no IML de São Cristóvão, nesta quarta: desespero | Foto: Osvaldo Praddo / Agência O Dia
Drama no IML

Familiares e amigos de vítimas do acidente passaram a noite de terça-feira e parte da madrugada no Instituto Médico-Legal sem uma notícia sobre essas pessoas. A namorada do farmacêutico Oséas da Silva Cardoso, 39, Viviane Diniz, 31, viveu oito horas de angústia, antes de saber, pela internet, da morte dele.
“Meu desespero começou às 6h da tarde, pois ele não chegava. Liguei várias vezes para o celular e ninguém atendia. Não fui procurada pela empresa de ônibus, nem pelaprefeitura, nem pelos bombeiros, hospital ou polícia. Às 2h da manhã, já desesperada, coloquei o nome dele completo na internet e apareceu a notícia. Acho que as autoridades precisavam ter mais preocupação de avisar às famílias", criticou Viviane.
Viadutos não cumprem exigências
Partindo do Centro do Rio, não é preciso circular muito para observar vários viadutos em desacordo com o padrão estabelecido pelo Dnit, em 1996.
Segundo Antônio Eulálio Pedrosa, engenheiro do Crea e especialista em pontes e grandes estruturas, diversos elevados na cidade não atendem às exigências, tampouco possuem muretas — denominadas guarda-rodas — capazes de evitar tombamentos de veículos.
Viviane Diniz perdeu o namorado e só soube disso ao ler notícia na internet | Foto: Carlos Moraes / Agência O Dia
Viviane Diniz perdeu o namorado e só soube disso ao ler notícia na internet | Foto: Carlos Moraes / Agência O Dia
“O padrão atual do Dnit determina que essas muretas tenham 80 centímetros em relação ao asfalto, além de resistência para suportar o choque de veículos e evitar seu tombamento, de forma que os joguem para dentro da pista”, explicou Eulálio.
Ainda de acordo com o especialista, os viadutos Edson Luiz de Lima — no Trevo dos Estudantes, Aterro do Flamengo —; dos Marinheiros, Centro; Rainha Carlota Joaquina, em Botafogo; além dos dois elevados de entrada e saída da Ilha do Governador, na Av. Brasil, são alguns dos que representam perigo à população.
Manual do Dnit determina que as barreiras de concreto devem ter altura, capacidade resistente e perfil interno adequados para impedir a queda do veículo desgovernado, absorver o choque lateral e propiciar sua recondução à faixa de tráfego.
<CW-30>Viaduto no Trevo dos Estudantes oferece riscos a quem passa pelo local | Foto: André Luiz Mello / Agência O Dia
Viaduto no Trevo dos Estudantes oferece riscos a quem passa pelo local | Foto: André Luiz Mello / Agência O Dia
Funkeiro faz homenagem a sobrevivente
Ainda traumatizado, o porteiro Alisson de Oliveira, de 27 anos, um dos sobreviventes do acidente, acredita que um milagre o salvou.
“Estava dormindo, acordei com a confusão e só lembro da queda do viaduto”, opinou o morador da Taquara, que ganhou uma música do cunhado, o funkeiro Luis Cláudio de Souza, o MC Baby, conhecido no meio pelo "Funk da Sapatada".
“Fiz a música ‘Acidente na Avenida Brasil’ para protestar contra a falta de fiscalização do governo. Hoje, os empresários obrigam o motorista a dirigir e a dar troco. Meu cunhado se salvou, mas e as outras pessoas?”, indagou o músico.
Confira trecho de ‘Acidente na Avenida Brasil’, de MC Baby: “Tá difícil de aturar, esse povo só sofre, isso tem que acabar...Por isso MC Baby vem fazendo seu apelo: chega de dupla função, isso nunca existiu, vocês viram o acidente lá na Avenida Brasil”.