quinta-feira, 23 de maio de 2013

Álvaro Assad: Qual a sua graça?


Álvaro Assad: Qual a sua graça?

Esconder-se atrás do humor para ser preconceituoso é caminho repugnante e desprezível. E nada engraçado

O DIA
Rio - Há 2 mil anos, o controle e a intolerância sobre o humor já existiam. Afinal, os mímicos podiam ser chicoteados na Itália. “A severidade romana achava que um homem se aviltava em exercer uma arte que não satisfazia a necessidade alguma e só tinha por fim o divertimento.”
Sim, a referência do humor não é o que o outro acha engraçado e, sim, o que você acha engraçado. Isso é sério e problemático, mas isso é humor, risos. Quando não existiam os atuais meios de comunicação, a “humilhação individual” era compacta, ou seja: você falava para um público de 800 pessoas e sobrava a piada sobre o gordinho da fila D, ou do careca da fila B ou do baixinho da fila... uhmmm... perdi o baixinho, mas tudo bem. Então, naquele tempo o problema era “desses 3” e, justo ou não, era humor. Ou eles levavam na boa, ou ficavam indignados, mas era uma “minoria silenciosa”. Entretanto, hoje vivemos a era do “humor impresso digit@l”. Logo, se você escrever, significa que é LEI, mas a piada tem de ter destino, momento e relação espaço/tempo. Quando fica impressa é possível de se perder e tomar um vulto equivocado. Para fazer piada ela tem de ser boa. E mesmo assim, pode não dar certo. Esse é o problema de quem faz piada.
Os Bobos da Corte faziam piada, o Rei ria.
Os Bobos da Corte faziam piada do povo e o Rei ria.
Os Bobos da Corte faziam piada do Rei e o povo ria.
O Rei entendia e o bobo morria.
Definitivamente o humor não tem ética. O homem social e responsável, sim. O humor para crianças, também.
Quem no Carnaval não riu do homem vestido de preto carregando balões fantasiado de padre?
Quem não riu do folião vestido de elevador do prédio que desabou?
Muitos envolvidos diretamente com essa perda humana não riram. Muitos mais, riram e copiaram.
Sou contra a falta de respeito e imposição de regras de comportamento de escolha religiosa, sexual, familiar etc etc. Esconder-se atrás do humor para ser preconceituoso é caminho repugnante e desprezível. E nada engraçado.
Uma coisa é humor, outra coisa é respeito. Sou a favor do respeito. E também da liberdade de humor.
Mas, qual o limite? Afinal, se você é baixinho, provavelmente desistiu de ler até aqui e parou lá no primeiro parágrafo, mas tudo bem, afinal eu sou narigudo e nasci no dia da mentira do ano que não terminou.
Álvaro Assad é ator, mímico e diretor da companhia carioca de humor Etc e Tal

    Nenhum comentário: