domingo, 26 de maio de 2013

Confira a sinopse do enredo da União do Parque Curicica

Confira a sinopse do enredo da União do Parque Curicica

Escola vai contar a história da cachaça na Sapucaí

O DIA
Rio - A União do Parque Curicica entregou na noite desta quinta-feira a sinopse do seu enredo para 2014. O encontro, que contou com aproximadamente 250 integrantes, marcou o início do processo de produção do samba que a escola escolherá para o próximo desfile.
O carnavalesco Mauro Quintaes em sua explanação sobre o tema pediu aos compositores um samba descritivo e sequencial. "Queremos um samba que tenha um bom retorno do publico e que quem esteja lá assistindo possa ver e ouvir nosso desfile como se fosse um filme legendado. Nossa sinopse é descontraída e assim será o nosso desfile. Solto e brincalhão como um embriagado."
O carnavalesco e o diretor de carnaval estarão à disposição dos compositores para prestar esclarecimentos e tirar dúvidas sobre o enredo no barracão (Rua Almirante Mariath, 06, São Cristóvão), nos dias 6 e 27 de junho, das 18 às 21h. A apresentação dos sambas concorrentes ocorrerá em 1º de agosto e a grande final será no dia 26 de setembro.
Escola vai contar a história da cachaça
Foto:  Divulgação

Confira a sinopse:
Na Garrafa, no Barril, Salve a Cachaça! - Patrimônio Cultural do Brasil
Ela está nas mesas, nos bares e no coração do Brasil. Tem selo verde e amarelo de autenticidade e é uma grande paixão nacional. Passou por transformações, numa espécie de alquimia tupiniquim: era doce e virou aguardente. Era verde e virou ouro. Era história... e virou samba!
É o combustível para muitas inspirações. Por isso, puxe um banco, erga um copo e venha molhar a palavra, porque hoje é carnaval!
Primeiro Gole – “Pinga ni mim”
Os portugueses haviam recém-chegado ao Brasil e descobriram uma engenhosa forma de nos explorar. Com a cana em alta cotação na Europa, faltavam terras para plantar e mãos para colher. A partir da chegada de Cabral e com o crescente comércio de escravos com a África, dois problemas foram resolvidos com uma só talagada.
A cana transformou as terras do litoral brasileiro, especialmente no Nordeste, em um imenso mar verde, que farfalhava ao sabor do vento. Até que um dia a garapa armazenada nos tachos fermentou. E dos alambiques pingou, sobre as feridas do escravo que tinha a pele negra aberta a chicotadas nas lavouras. Primeiro, a água ardeu. Depois, a bebida passou a amenizar o sofrimento na senzala.
As moendas giravam, a economia também. E o açúcar, de doce, passou a ser aguardente... que virou feitiçaria! Foi assim, na lábia, que Bartolomeu Bueno da Silva, mais conhecido como Anhanguera ou Diabo Velho, mandou um “171” pra cima dos índios. Acuado, disse ser o deus do fogo e ameaçou incendiar os rios da região. Na verdade, as chamas que encandearam o olhar incrédulo dos nativos queimavam pela ação da cachaça. Com o truque, o bravo bandeirante perdeu uma garrafa do precioso líquido, mas fez novas amizades. Tudo bem que à base de medo, intimidação e um pouco de superstição, mas e daí? Não se faz amigos bebendo leite, certo?
Segundo Gole – “Glória à Cachaça... e a todas as lutas inglórias”
Mais tarde, Portugal viu cambalear a cultura da cana-de-açúcar, que os holandeses espertamente foram plantar nas Antilhas. A Coroa resolveu, então, aumentar os impostos sobre a cachaça, que àquela altura era exportada para Angola, rendendo bons lucros aos senhores de engenho. Produtores do Rio de Janeiro e da região da antiga Freguesia de São Gonçalo do Amarante (em cujas terras hoje ficam os municípios de Niterói e São Gonçalo) se rebelaram contra a taxa. Surgia assim a Revolta da Cachaça.
Sai a cana, entra a mineração. A história você já conhece... poucos ganham, muitos trabalham e assim seguia a vida na Colônia. Mas nas alterosas montanhas de Minas Gerais, o frio era de matar. E mais uma vez os escravos entraram numa gelada. Nas minas de ouro, para se manterem aquecidos, os negros escravizados entornavam mais e mais a aguardente. Parece até sacrilégio dizer isso, mas é a pura verdade: o luxo das igrejas barrocas banhadas a ouro deve muito da ostentação à “marvada” pinga.
Ainda em Minas, alguns inconformados com a alta tributação da coroa portuguesa tramavam em segredo outra revolta. Os Inconfidentes não dispensavam uma boa cana e brindavam ao sucesso da ousada empreitada. Mas no final o que ficou foi uma tremenda ressaca: Tiradentes foi enforcado, muitos presos e a Coroa... bem, essa só foi perder a boquinha anos e anos depois com a Independência proclamada por Dom Pedro I, que, dizem, ergueu um brinde à nova nação com uma boa e velha pinga!
Terceiro Gole – Vai uma pro santo?
Se a cachaça tem lugar cativo na história, também marca presença na fé do brasileiro. Ela é combustível desse sentimento, dessa nossa força tão peculiar. Tanto que ganhou uma dose a mais de identidade verde e amarela com oferendas para santos de diversas crenças e de diversas origens.
Nas religiões afro-brasileiras, Exu, o mensageiro entre o céu e a Terra, é saudado com marafo, que nada mais é que a boa e velha cachaça. Ali, na aguardente, estão perfeitamente unidos em uma só bebida dois elementos fundamentais e opostos: a água e o fogo. Os trabalhos ritualísticos feitos pelos sábios Pretos Velhos também têm na bebida um elo com os espíritos. E de gole em gole, são tecidos os laços com a nossa ancestralidade.
Mas não é só nos terreiros dessa imensa nação que a cachaça tem ligação com o sagrado. Nas trovas populares, São Benedito é saudado como o “santo preto / que bebe cachaça / e ronca no peito”. E assim é o Brasil. Uma nação fundada na fé de um povo que ao beber, não se furta a destinar um golinho pro santo. Seja qual for a devoção.
Quarto Gole – “Você pensa que cachaça é água?”
Simbora, meu povo, que (o que repetido) hoje é noite de festa! Não vai faltar quentão pra esquentar a louvação a Santo Antônio, São João e São Pedro. E dessa água pode até ser que passarinho não beba, mas lá em Paraty ela anima os violeiros e faz a alegria na Festa do Divino. E já que o brasileiro é chegado a uma mistura, nada melhor do que fazer do limão da vida, uma limonada. Melhor ainda: que tal adicionar um pouquinho de cachaça e fazer uma caipirinha?
Agora, pra encerrar o papo, só mais golinho, porque, afinal, na festa de Momo, a branquinha é a tal. Folião que é folião já pulou no salão cantando o que lhe é essencial nesses quatro dias de loucura: “pode me faltar o amor / isso até eu acho graça / só não quero que me falte / a danada da cachaça”.


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