Rio -  O patrimônio mais valioso que o meu saudoso avô, o ex-governador Leonel de Moura Brizola, nos deixou não foi uma estação de rádio — embora o microfone tenha sido a principal arma utilizada por ele para liderar a Campanha da Legalidade, movimento civil que resistiu ao golpe militar que queria impedir a posse do vice-presidente João Goulart após a renúncia de Janio Quadros, em 1961.
A concessão de uma rádio AM ou FM ou de um canal de TV é comum nas famílias de tradição política em todo o Brasil — vide os Sarney, os Collor de Mello, os Magalhães, apenas para lembrar os mais famosos. Através da Rede da Legalidade, Brizola, na época governador do Rio Grande do Sul, instalou sistema de transmissão no porão do Palácio Piratini — sede do governo gaúcho — e rapidamente mais de 100 rádios entraram em cadeia nacional. E isso longe do advento da internet e das redes sociais de hoje.
O grande legado de Brizola foi pregar a educação como base de governo, pois, ao assumir como prefeito de Porto Alegre, criou o projeto Nenhuma Criança Sem Escola, inaugurando 137 unidades de ensino e iniciando sua obstinada cruzada pela educação pública de qualidade. Posteriormente, como governador, construiu 6.302 escolas e contratou 42.153 professores.
Nas suas administrações no Rio de Janeiro, confirmou a prioridade e construiu cerca de 500 Cieps, escolas públicas de horário integral, idealizadas por Darcy Ribeiro e projetados por Oscar Niemeyer. Brizola foi um menino pobre, alfabetizado pela mãe, que ganhou uma oportunidade de estudar, e ele sabia o quanto aquilo foi importante.
São quase nove anos sem o meu avô, cuja morte aconteceu no dia 21 de junho de 2004, no Rio, estado que escolheu para viver. E hoje, quando vejo um aluno fazer uma prova do Enem escrevendo uma receita de macarrão instantâneo e ainda ganhar nota boa, sinto que ele foi um político coerente e nacionalista. Brizola tinha razão.
Juliana Brizola é deputada estadual pelo PDT-RS e presidente da Comissão de Educação da Assembleia Legislativa gaúcha