sexta-feira, 24 de maio de 2013

Leda Nagle: Para o bem de todos


Leda Nagle: Para o bem de todos

O grande barato do ser humano é poder avançar e criar sem perder as noções de cidadania, solidariedade e doçura

O DIA
Rio - Do lixo jogado no chão a intolerância religiosa, do comportamento gentil a agressão física, do dirigir depois de beber ao avanço do sinal de trânsito, do desperdício da água a uma alimentação mais saudável, tudo, absolutamente tudo é uma questão de educação. Ou de falta dela. Até porque, todo mundo sabe, ou deveria saber, que educação não é só identificar o sujeito da frase ou saber somar ou dividir. É muito mais. Ou deveria ser.
É preciso fazer alguma coisa para mudar o jogo do dia a dia no qual estamos envolvidos hoje. O jogo do cada um por si, sem querer ver ou respeitar o outro, os direitos do outro. Um jogo apressado, inconsequente, egoísta, independente. Quando eu era jovem, no século passado, alunos do então Ginásio tinham uma aula que todos achávamos chatíssima, chamada OSPB. Eram chatas mesmo e nos lembram o período da ditadura militar, um tempo que não queremos lembrar. Ou que deveríamos lembrar para não esquecer. Mas a ideia daquela matéria ou disciplina deveria ser retomada, de maneira revisitada, atualizada. Ou seja, poderia ter o poder transformador de formar pessoas mais civilizadas, mais educadas, menos intolerantes, mais respeitosas.
Lembra daquele ditado popular que diz que “ é de pequeno que se torce o pepino”? A proposta é esta. Ensinar a criança, o pré-adolescente que a natureza é de todos, a cidade é todos, a vida é de todos: gordos e magros, ricos e pobres, gays e heteros, evangélicos e seguidores do candomblé, católicos e protestantes, chiques e bregas. Eu sei perfeitamente que, hoje em dia, estes temas estão, ou deveriam estar sendo dados em salas de aula, como temas transversais, paralelos às disciplinas convencionais, mas pelo que estamos vendo, vivendo e sentindo não estão dando o resultado esperado. Ou que queremos e precisamos. Não basta formar a pessoa pro mundo competitivo do trabalho, para ser bem-sucedido, para fazer uma faculdade. É necessário mais do que isto. Como também não basta achar que as crianças já nascem com chip e que se adaptarão com tranquilidade ao mundo tecnológico.
O grande barato do ser humano é poder avançar e criar sem perder as noções de cidadania, solidariedade e doçura. A diferença está na educação, na capacidade de aceitar e conviver com as diferenças, sem destruir a natureza, sem achar que as regras são para os outros e não para eles, todos, sem exceção. É óbvio que não é só nas escolas que se aprende tudo isto. É claro que as famílias, sejam elas do jeito que forem, têm participação ativa nisto. E devem exercer este papel e não podem abrir mão dele. Mas é a criança que pode ser o mais forte agente desta transformação.

    Nenhum comentário: