domingo, 26 de maio de 2013

Mateus Solano rouba a cena com as maldades de Félix em 'Amor à Vida'

Mateus Solano rouba a cena com as maldades de Félix em 'Amor à Vida'

Ator interpreta um gay enrustido na novela das 21h

FLAVIA MUNIZ
Rio - Bastou um capítulo para saber que ‘Amor à Vida’ é de Mateus Solano. Crítica e público foram unânimes em apontar Félix, o vilão homossexual enrustido, como a grande aposta da novela de Walcyr Carrasco. Ele é a maldade personificada. Sarcástico, frio, impiedoso, é capaz das maiores atrocidades, até matar, para tirar um inimigo da reta e se dar bem.
“Ele dá pinta, é extravagante, mas é muito poderoso e joga com isso. Apesar de ser malvado, Félix tem humor e é sedutor”, avalia Mateus, que, já na primeira semana, recebeu uma enxurrada de elogios à sua atuação. Do criador, inclusive. Para Walcyr, Solano superou expectativas na pele de sua ‘criatura’: “Está melhor do que eu imaginava. Ele interpreta o que eu escrevo em profundidade”.
Mateus Solano rouba a cena em novela
Foto:  João Laet / Agência O Dia

O sucesso do personagem, o autor atribui à novidade. “Ele é especial, diferente. Nunca apareceu em novela alguém igual ao Félix”, frisa Walcyr, que vê na vida real vilões iguais ou piores. “Maldade é o que não falta neste mundo. Até em pessoas que parecem insuspeitas, como ele”, sentencia.
Na escola onde Carminha (Adriana Esteves, ‘Avenida Brasil’) estudou, Félix é Ph.D. Não é à toa que ele está sendo comparado à vilã mais amada dos últimos tempos. “As pessoas têm muita saudade da Carminha. A personagem e ‘Avenida Brasil’ elevaram a exigência do público com as novelas. Foi um divisor de águas nesse sentido. O povo não é bobo, quer qualidade. Adriana foi um sucesso tão grande que vai ser lembrada sempre. Mas o que eu estou fazendo não é nada parecido. É outra história”, deixa claro o ator.
Mateus diz que foi um alívio essa aceitação toda. “Não esperava essa repercussão. Sou autocrítico, então não adianta o público gostar se eu não estiver satisfeito. Estava angustiado, porque o personagem é complexo. Ele tem de tudo: piadas fora de hora; é enrustido, mas tem jargões gays; esconde a homossexualidade, mas dá pinta; tem esse tom real e fictício, naturalista e teatral. Estava preocupado em estar ou não no caminho certo. Agora, estou aliviado, e fico feliz com a resposta do público”, diz.
Para entender a personalidade doentia de Félix, Mateus foi fundo na pesquisa e leu a biografia do líder nazista Adolf Hitler. “A ambição pelo poder é viciante. Ele nunca está satisfeito, quer ser mais poderoso que o Bill Gates (o homem mais rico do mundo), só para esfregar na cara do pai (Antonio Fagundes)”, explica Solano, que capturou nas ruas os trejeitos e afetações do personagem. “Isso daí está em todo lugar”, frisa.
Mateus Solano interpreta o vilão Félix
Foto:  João Laet / Agência O Dia
Félix não sai do armário para manter a fachada: “A família tem um pacto velado, como muitas por aí, e esse pacto fomenta ainda mais o monstro que existe nele. Também pela rejeição do pai e pelo excesso de mimos da mãe (Susana Vieira). A família libanesa e o pai machão não aceitariam a homossexualidade do filho”, justifica. E, mesmo quando Edith (Bárbara Paz) descobre que o marido gosta de homens, ela é conivente. E um triângulo amoroso pode se formar. “Tem um personagem no hospital San Magno, o Jacques (Júlio Rocha), que se utiliza dessa fraqueza do Félix para conseguir o que quer”, adianta o ator.
Um beijo gay não seria novidade para Solano, que já protagonizou a tão polêmica cena no filme ‘A Novela das 8’. Na TV, ele entende por que o tema ainda é tabu. “A Globo não quer que ninguém desligue a televisão. Tem que pensar em todo o povo e a maioria não está no Rio nem em São Paulo. Quero personagens diferentes. O que eles vão fazer, não me importa. Mas acho que o beijo gay, se acontecer, deve ser da mesma forma que o hétero, com naturalidade. A homossexualidade existe antes de a sociedade existir”, analisa o ator.
Por pouco, Mateus não declina do convite para fazer o Félix. Afastado do teatro há três anos, ele só topou ser o antagonista da novela se pudesse voltar aos palcos. Como era insubstituível, a solução foi liberá-lo das gravações de sexta a domingo para se apresentar no Espaço Tom Jobim, no Jardim Botânico, até agosto, com a peça ‘Do Tamanho do Mundo’, escrita pela mulher dele, Paula Braun, e dirigida por Jefferson Miranda. “Em compensação, de segunda a quinta, eles estão tirando o meu couro, mas estou lidando muito bem com isso, dentro do que a saúde permite, porque estou muito feliz, tanto na TV, quanto no teatro”, assegura o ator, que recebeu a ‘Já É! Domingo’ em um dos ensaios e contou que tirou do próprio bolso os recursos para bancar o espetáculo.
“Tentei patrocínio e não consegui, só para São Paulo. Gastei uma boa grana e não espero lucrar. Espero, pelo menos recuperar, mas, se isso não acontecer, o que importa é que a qualidade do meu trabalho eu devo ao teatro. E foi na televisão que eu consegui dinheiro para isso. É muito duro fazer teatro no Brasil e, no Rio, mais ainda. A cidade está abrindo cada vez mais as portas para comédias, stand-ups, musicais. Às vezes, o público carioca tem o pé atrás. Até por isso a gente colocou leveza na peça, não queria que fosse uma coisa hermética, fechada, que só alguns entendessem. Quero que o público que me assiste na televisão venha me ver e fale: ‘Poxa, quero continuar indo ao teatro’”.
Em casa, na TV e no teatro
Na alegria e na tristeza, na saúde e na doença... Em casa e no trabalho. A parceria de Mateus Solano e Paula Braun ultrapassou a fronteira do casamento e, agora, marido e mulher também estão juntos no teatro e na novela. “No início, eu pensei: ‘Será? Já durmo e acordo com ela, agora vou trabalhar também? Mas tem sido muito legal, porque a gente tem se encontrado mais. Estou precisando tanto dela, está tão puxado. Paula tem me dado a maior força e estamos bem felizes”, diz o ator.
“A gente sempre se ajudou, mas, mesmo trabalhando juntos, temos conseguido separar o tempo do trabalho e o tempo em família. A melhor parte disso é tirar férias juntos”, enfatiza Paula. A atriz garante que a rotina da filha deles, Flora, 2 anos, não vai mudar tanto: “Não sou protagonista como ele, senão seria complicado, porque ela ia ficar muito sozinha. Meu ritmo é mais tranquilo. E, se pesar, a gente conversa e ela vai entender”.
Paula estreia no horário nobre como Rebeca, médica judia que trabalha no hospital da família de Félix, e que se envolverá com o árabe Pérsio (Mouhamed Harfouch). Ela atua desde os 13 anos e deixa claro que o papel foi conquistado por méritos próprios, não pela indicação do marido: “Tenho um DVD com todos os meus trabalhos e faço o que todo ator faz, bato de porta em porta, entregando para os autores e diretores que eu acho interessantes. Algumas vezes acontece de fazer teste, mas, no caso do Walcyr (autor), ele fez o convite e me deu essa oportunidade. Eu tenho histórico. Minha obrigação é fazer um bom trabalho e vou me esforçar para isso, sei que estou em um horário que vou atingir um público grande, com o qual eu nunca lidei. A única coisa que está ao meu alcance é me esforçar, ser sincera e trabalhar bem”.

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