Rio -  Às vésperas da Copa e da Olimpíada, o Rio tem pouco a festejar quando o assunto é o legado que as competições deixarão para a cidade. De acordo com o historiador Édson Diniz, da Redes da Maré, o exemplo do Pan, em que nem 10% do investido foi revertido em inclusão social, é sintomático. Édson é autor de um trabalho que mapeou as necessidades de 53 favelas para o Ministério do Esporte.
“Em Londres, o parque olímpico foi construído na área mais pobre. Investiram R$ 20 bilhões na construção de uma infraestrutura em coleta de esgoto, metrô, trem, transporte, segurança. Foram nove mil casas novas. Eles reformaram uma parte pobre da cidade, que estava há 30 anos largada. Isso é legado social”, defende ele, um dos participantes do seminário ‘Rio, Cidade sem Fronteiras’, que o DIA e o ‘Meia Hora’ realizam hoje, no Morro da Mineira, tendo como tema ‘Esporte como forma de inclusão social’. 
O campinho da Mineira, que em vez de terra batida tem gramado artificial: reforma desastrada antes da eleição de 2012 transformou o que era ruim em algo pior ainda para 200 crianças | Foto: Uanderson Fernandes / Agência O Dia
O campinho da Mineira, que em vez de terra batida tem gramado artificial: reforma desastrada antes da eleição de 2012 transformou o que era ruim em algo pior ainda para 200 crianças | Foto: Uanderson Fernandes / Agência O Dia
Para fazer o trabalho o historiador entrou em 53 comunidades, com direito a assembléias para escutar a população. Foram apontadas deficiências em equipamentos esportivos, culturais, educacionais e de saúde em áreas próximas aos locais onde haveria competições. “Perdemos uma grande chance. E vamos perder de novo agora. Como falar em legado quando há comunidades sendo ameaçadas de remoção, mesmo sendo vizinhas a equipamentos?” 
Ele diz que, no trabalho para o Pan, percebeu que nas favelas os equipamentos esportivos são precários — em geral um campinho de terra batida, sem qualquer estrutura. “Legado da Copa é construção de postos de saúde, de equipamentos culturais e, claro, esportivos. A Maré, com 140 mil habitantes, não tem um teatro, um cinema. A primeira pergunta que deveríamos ter feito era: ‘que cidade queremos?’ E ela não foi feita”.
Estudo aponta equipamentos em condições ‘precárias, improvisadas’
Com 190 páginas, o estudo ‘Legado Social dos XV Jogos Pan-Americanos Rio 2007’ diz, na pág 96, que as atividades esportivas contribuem para minimizar a influência do narcotráfico, mas que “estas atividades (...) precisam ser ampliadas (...) como também necessitam de investimentosna infraestrutura”.
Mais adiante, o mesmo estudo alerta para condições precárias dos equipamentos, com “grande parcela dos espaços (...) em condições precárias, e alguns deles, de caráter tipicamente improvisado e/ou adaptado”. O programa ‘Segundo Tempo’, quedevido a irregularidades causou a queda do ministro Orlando Silva, estava presente em “somente 28,3%” das favelas mapeadas. No mesmo estudo, chega-se à conclusão que 50% dos domicílios não têm saneamento básico adequado e que o equipamento de esgoto existente está sobrecarregado pela verticalização.