Rio -  A cinco dias da convocação para a Copa das Confederações, o coordenador técnico da Seleção, Carlos Alberto Parreira, afirma que a competição pode ser um momento-chave na preparação do time, que ainda precisa reconquistar a torcida. Ele garante que não haverá surpresas na lista de terça-feira e espera medir forças com a Espanha, atual campeã mundial. Embora admita que ter um bom desempenho no torneio desse ano é um grande passo para o jogador assegurar vaga no grupo que jogará o Mundial, Parreira faz um alerta aos que ficarem fora: não se entreguem. Quem estiver no melhor momento em 2014, com certeza será lembrado.
Foto: Carlos Moraes / Agência O Dia
Parreira mostra confiança no futuro da Seleção | Foto: Carlos Moraes / Agência O Dia
O DIA: Como tem sido o trabalho nos bastidores?  

Parreira: Copa do Mundo se vence primeiro fora de campo. Quando a gente ganha fora do campo, tenho essa experiência, pois fui a quatro Copas com a Seleção, já se bota uma mão na taça.

O que é ganhar fora de campo?

A logística, onde vai ficar, hotéis, centro de treinamento... Parte da política, comissão técnica, harmonia fora de campo, time, todo mundo querendo. Na parte financeira, a CBF admite não ter problema. Quando digo parte política não é fazer política. É estar com tudo entrosado. Principalmente o time e a comissão técnica estarem unidos.  

E nesse sentido já está tudo encaminhado?

Vai ficar melhor agora. Até então não ficamos com esse time. Dois dias, três dias e vai embora. Agora que vamos ficar um período maior. São dez dias antes da estreia. Vamos ficar vinte dias, sentir essa união. No ambiente de hotel está tudo legal, tudo certinho, mas a gente precisa estar mais junto.

Você já falou da importância de aproximar a Seleção da torcida, como aconteceu na África do Sul...

Essa aproximação no Brasil é sempre muito mais complicada e até tumultuada. O torcedor brasileiro é muito exigente, cobra mesmo. Na minha experiência de Seleção, desde 1970, ela foi vaiada nos grandes centros, em 1974, 1993... Ninguém gosta de ser vaiado. Jogador de futebol é um ser humano como todos nós, gosta de carinho. Nós fomos vaiados em vários lugares em 1993, mas quando fomos jogar em Recife, nossa, que diferença. Só carinho. E a resposta foi um 6 a 0 sobre a Bolívia contundente e a reabilitação. A gente não quer fazer apelo, a gente quer conquistar esse carinho do torcedor. E para isso tem que ter resultados positivos, jogar bem. Precisamos que esse 12º jogador esteja junto da gente. Torcida não ganha jogo, mas ajuda muito.

E a Copa das Confederações é o momento de conquistar a torcida?

Jogando bem, dará confiança a nós e aos torcedores de que temos condição de ganhar a Copa do Mundo. Ela vai servir para isso. Para nos dar a certeza e confiança. É importante que esses jogadores tenham confiança de que podem ganhar a Copa. Esse time pode ganhar o título se jogar como equipe, se estiver motivado, comprometido com a vitória. Não tem outra maneira. Como o Felipão sempre fala: não precisa nem motivar o cara para jogar uma Copa do Mundo em casa, para ganhar.

Você falou da vaia. O Neymar sofreu com isso no Mineirão. Como você vê essa pressão sobre ele?

O Neymar é um jovem veterano. Ele vai para a quarta decisão de Campeonato Paulista, foi campeão da Copa do Brasil, Libertadores... Essa vaia não vai prejudicá-lo, ele sabe enfrentá-la. De um modo geral os jogadores sabem enfrentá-la. Se vocês (jornalistas) esquecerem da vaia, ela não vai acontecer. Só falam em vaia, vaia, vaia, o torcedor acaba se lembrando que existe vaia. Acho que deveria esquecer, não escrever sobre vaia. Tudo o que eu falei até agora esquece. Não é assunto para ser puxado.

Até que ponto a Copa das Confederações pode ser um parâmetro para a Copa do Mundo?

A Seleção não vai ter outra competição oficial a não ser a Copa das Confederações. É única e tem que ser muito bem aproveitada. Sorte nossa que temos um grupo bom, difícil: Japão, campeão asiático, que esteve nas últimas cinco Copas do Mundo, metade dos jogadores atua no futebol europeu; o México tem tradição de jogar bem contra o Brasil e é tecnicamente muito bom; e a Itália que é tetracampeã do mundo. E estamos torcendo para enfrentar a Espanha, que eu acho que é a favorita, para medir forças mesmo, avaliar. É a última campeã do mundo e ganhou duas Eurocopas recentemente.
 
Além da Espanha, que outros países você apontaria como favoritos na Copa?

Alemanha, pelo que fez na Copa de 2010 e pelo sucesso do Borussia e do Bayern; a própria Itália, que se renovou; a Argentina, que tem tradição em Copa do Mundo, um time bom e o melhor jogador do mundo, o Messi; a Holanda, que está invicta nas Eliminatórias; e a Inglaterra que mudou o treinador, não é mais tanta bola jogada na área, é um time mais técnico, bola no chão, com velocidade e marcação. O que essas equipes têm, além da qualidade, é o estilo de jogo, baseado na velocidade e na marcação muito forte. Temos que acompanhar isso, sem copiar integralmente, mas temos que melhorar muito nesse aspecto, reagrupar e sair mais rápido, mas sem perder a característica do futebol brasileiro de toque de bola.

Após 1950, fica o sentimento de que não pode dar errado de novo?

Se por acaso acontecer vai ferir o orgulho nacional por sermos uma das potências do futebol mundial. Todas ganharam em casa. Alemanha jogou duas, perdeu uma (2006) e ganhou outra (1974); A Itália jogou duas, perdeu uma (1990) e ganhou outra (1934); nós jogamos uma e perdemos, na segunda temos que ganhar. Não canso de repetir: é impensável e inimaginável que a gente não ganhe a Copa em casa. Não passa pela minha cabeça.

O Brasil é hoje o 19º no ranking da Fifa. É o pior momento para sediarmos uma Copa?

A seleção brasileira é como a Fênix, ressurge das cinzas. Em 1958, 1970, 1994 e 2002 não éramos favoritos e ganhamos. Acho que a única que ela foi favorita foi em 1962, baseado no sucesso de 1958.

A lista está fechada? Existia o dilema entre Ronaldinho e Kaká? Se sim, ele foi resolvido?

Está praticamente fechada. Mas não vamos tocar em nomes. Não é a hora. Vamos deixar para terça-feira.  
 
Para o Mundial falta um ano e dois meses...

Mas de dezembro a junho a Seleção se reúne três dias. Faltam, na verdade, seis meses. Porque de dezembro a junho, quando começa a Copa, a Seleção só se reúne uma vez. De dezembro a 28 de maio de 2014, quando a Seleção se apresenta, a gente só vai ficar três dias com os jogadores. Por isso, até novembro a gente faz sete jogos, mais os cinco da Copa das Confederações. E os dois jogos do Superclássico contra a Argentina, só com jogadores do Brasil.

Para a Copa das Confederações, você vê o Brasil pronto para convencer?

Com certeza, as apresentações serão melhores. Vamos fazer uma semana de treinamento. Vamos pegar a Inglaterra e a França como preparação. São sete jogos. A gente tem uma oportunidade boa de mostrar nosso valor, mostrar que a gente está a fim de ganhar a Copa.

Se vier o hexa, para você será como se estivesse pagando a dívida de 2006?

Não. Foi uma decepção, mas não a grande decepção. Ficamos 24 anos sem chegar a uma final. Não é tão fácil. Eu tive responsabilidade porque escalava, escolhia os jogadores, decidia a tática, tinha que motivar. Mas é um grupo, não foi só o treinador que perdeu.

Haverá alguma surpresa na convocação?

Não é hora de surpresa. Se vier algum jogador que jogou contra a Bolívia ou Chile, não é surpresa, porque já jogou. Surpresa seria um jogador que não tivesse atuado ainda.

Para o jogador, ir bem na Copa das Confederações já é meio caminho andado para a Copa do Mundo?

É um passo importante, mas quem ficar fora não deve desanimar, não pode se considerar fora da Copa. Que brigue. Se se entregar fica mais fácil para a gente decidir. O Del Bosque, campeão da Eurocopa, falou: ‘Futebol é um esporte de momento’. Que no momento da convocação final você esteja no ápice.

O que falta ao Brasil em relação a Espanha, Alemanha e Argentina?

O futebol brasileiro tem uma história e uma tradição que, na hora de uma Copa do Mundo, pesam. A camisa amarela, os cincos títulos, jogar no Brasil... Se tiver unido, trabalhado, treinando, comprometido, com vontade de ganhar, nós somos candidatos seriíssimos. É esse ganhar fora do campo. Dentro de campo temos gente para resolver.