Rio -  Sempre acreditei que o problema do Congresso Nacional tem sua origem na sua arquitetura. É uma tese meio furada, pois o buraco, todos sabem, é mais embaixo, mas, sem dúvida, o prédio desenhado por Oscar Niemeyer não ajuda nossa democracia. Vocês já devem ter visto na televisão aquelas sessões do congresso em que vemos um deputado fazendo um discurso e todos os outros absolutamente desconcentrados, falando ao telefone, reunidos em grupinhos e conversando. Todas as decisões já estão tomadas, e ninguém convence ninguém de qualquer coisa.
Os discursos são meramente protocolares. Já vi deputado discursar para plenário totalmente vazio. Esses discursos vão para os anais, como se diz. É o registro de uma opinião que já estava cristalizada. O Congresso, ao meu ver, tem uma péssima relação de palco-plateia, desfavorecendo a concentração em quem está falando e a consequente troca de ideias.
O palco é largo demais. A tribuna fica colocada numa lateral, e o deputado que está falando fica muito longe dos colegas que estão, na maior parte do tempo, em pé e distantes de quem está com a palavra. Os políticos que dirigem as sessões estão na mesa, no centro do palco, lugarprivilegiado, onde ficam o tempo todo dispersando a atenção de quem, porventura, gostaria de ouvir quem está falando.
Se os deputados ficassem dispostos em duas grandes plateias, uma de frente para a outra, como no parlamento inglês, será que não haveria mais troca de ideias? Uma vez vi na televisãouma sessão do parlamento inglês e fiquei impressionado com a aparente atenção que todos demonstravam no que o outro falava, expressando as opiniões favoráveis ou contrarias com aplausos e uma porção de “ohs” e “ahs”.
O problema é que nossos deputados não estão ali para mudar de opinião, e sim cuidar de seus próprios e escusos interesses.
Paulo Betti é ator e diretor do Sesc Casa da Gávea