terça-feira, 14 de maio de 2013

Projeto que criminaliza discriminação de pessoas com HIV será reexaminado


Projeto que criminaliza discriminação de pessoas com HIV será reexaminado

Projeto foi aprovado com supressão de um inciso que impede demissão do trabalhador em razão de ter o vírus

O DIA
O senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) decidiu reexaminar relatório de sua autoria sobre emendas da Câmara dos Deputados a projeto que criminaliza a discriminação contra pessoas com HIV (PLS 51/2003). A matéria está em análise na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ). A decisão de Aloysio Nunes foi anunciada pelo senador Paulo Paim (PT-RS) durante audiência pública nesta segunda-feira na Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH).
O projeto, da ex-senadora Serys Slhessarenko, foi aprovado pela Câmara dos Deputados com a supressão de um inciso que impede a exoneração ou demissão do trabalhador em razão da sorologia positiva pelo vírus HIV.
Paim, que presidiu a audiência da CDH, explicou que o pedido de reexame feito por Aloysio Nunes não assegura a reinserção do inciso retirado pela Câmara dos Deputados. Ele disse, no entanto, que acredita na sensibilidade do relator em relação ao tema.
"Ele é um grande senador, independente aqui de oposição ou de situação. E ele tem muito respeito aqui na Casa. Se ele realmente resolver acatar o pedido de vocês, a matéria, com certeza será aprovada e vai à sanção da presidenta", afirmou Paim, dirigindo-se as participantes da audiência pública.
Autores e locais de discriminação
Os participantes da audiência ressaltaram o fato de o próprio Estado discriminar pessoas com HIV. O presidente do Grupo de Incentivo à Vida, Cláudio Pereira, contou o caso de um rapaz com cegueira total e depressão a quem foi negado a aposentadoria pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
"A pessoa está apta a trabalhar, mesmo não tendo condições, só que ela chega ao trabalho e não a querem. A pessoa fica num limbo, porque o que é válido é o laudo oficial, que é do INSS. O médico do trabalho da empresa devolve, e a pessoa fica perdida, sem o benefício e sem dinheiro", afirmou.
Segundo os participantes, o ambiente de trabalho é o segundo local onde há mais discriminação de pessoas vivendo com o vírus da Aids, depois do ambiente familiar.
Durante a audiência, também foi criticada a exigência de exame negativo para HIV em concursos públicos. De acordo com o representante da Rede Nacional de Pessoas que Vivem com HIV/Aids, Jorge Beloqui, a doença passou a ser mais controlável.
"Há, inclusive, estudos que mostram que a expectativa de vida é quase a mesma entre as pessoas sem HIV e as pessoas que adquiriram HIV por via sexual e foram tratadas oportunamente", argumentou.
O diretor do Departamento DST/Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, Dirceu Greco, explicou que até a transmissão da doença pode ser quase nula nos casos de um tratamento eficaz.
"Foi claramente comprovado que pessoas infectadas com HIV, tratadas de maneira correta, quando a carga viral, que é o marcador principal da eficácia do tratamento, torna-se não detectável, principalmente abaixo de 50 corpos, a chance de transmissão numa relação sexual cai exponencialmente", afirmou.
A deputada federal e coordenadora da Frente Parlamentar de Enfrentamento às Doenças Sexualmente Transmissíveis, Érika Kokay (PT-DF), ressaltou o risco de retrocesso nos avanços relacionados ao respeito às pessoas com HIV e criticou o trabalho da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados.
"Você tem hoje uma composição na Comissão de Direitos Humanos que é refratária a qualquer tipo de discussão, uma maioria absolutamente sedimentada, construída para tomar de assalto aquela comissão. Por isso, nós nos retiramos dela – criticou.
Também participaram da audiência a advogada do Grupo pela Vida Niteroi, Patrícia Rios; o Conselheiro Nacional de Saúde do Ministério da Saúde, Jasiel Pontes; e o diretor Adjunto do Departamento DST/Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, Eduardo Barbosa.
Homofobia
Durante o debate na CDH, Paulo Paim, relator de projeto que criminaliza a homofobia (PLC 122/2006), disse esperar sua votação nas duas Casas do Congresso Nacional ainda este ano.
"Eu acho que é um compromisso de honra do Congresso Nacional nós ajustarmos essa redação. O Congresso não pode mais se omitir desse debate e ter posição clara", afirmou.
O senador disse já ter três encontros marcados para debater o projeto, dois no Rio Grande do Sul e um em Brasília.

Nenhum comentário: